segunda-feira, 10 de agosto de 2009

VAI UM SUQUINHO AÍ??????

VAI UM SUQUINHO AÍ?

Amanhece em Palma.
Estamos na década de 1960.
Na principal esquina da cidade, onde se encontram as ruas dr. Victor Ferreira e João Pinheiro ( ainda não existe a Rua Heitor Barbosa), num prédio onde já funcionou “A Barateira”de José Auad e a “venda” do Seu Zé Ribeiro – aquela venda onde há pouco tempo um boi entrou e espantou todo mundo - o cheirinho de suco é sentido pelos passageiros que esperam o ônibus do Seu Joaquim.
O ônibus para. Seu Joaquim sacode a poeira da estrada de Miracema, sobe a escada na parte traseira do ônibus, retira as malas de alguns passageiros e coloca a bagagem dos que entram, com destino a Laranjal, Leopoldina e Cataguases.
O guarda-pó, confeccionado na sua maioria com brim caqui “Floriano”, é traje obrigatório.
No prédio comercial, onde outrora funcionaram grandes lojas da cidade, hoje sutians e capas de malas estão em exposição pendurados em pregos nos portais.
Somente a porta principal está aberta. Lá dentro, uma antiga máquina de costura, uma mesa com tecidos diversos e uma divisória feita de madeira compensada.
Roseana, com seu vestido preto, os cabelos presos num coque, nos pés alpargatas roda e um grande sorriso que mostra uma grande dentadura. Grande mesmo. Cada uma, inferior e superior, com dezessete dentes cada. O incômodo causado pelo excesso de dentes provoca um cacoete que a faz levantar os lábios e mostra uma caretinha, não muito feia.
Descrito o cenário, vamos aos fatos.
Roseana levanta-se cedinho, pega um balde que fica debaixo de sua cama, no qual ela faz o xixizinho noturno e outras necessidades, coloca um pano de prato por cima dele e, sorrateiramente chega na porta principal. Olha para um lado. Olha para o outro. Percebendo que ninguém a vê, atravessa a rua com passos miúdos, mas rápidos. Entra por um caminho estreito onde antes existia a Venda do Juca Aarão, passa por trás de uma casa onde nos fundos funciona uma sapataria,chega até a margem do Ribeirão Capivara e despeja todo o conteúdo de sua produção noturna. Balde vazio, volta para casa.
Lá dentro, um tanque de cimento serve de pia de cozinha, lavatório e tanque de lavar roupa. Nesse tanque, ela lava o balde. Dá uma chacoalhada com água. Depois o enche e o leva até uma mesa que fica ao lado da cama. Despeja nele o conteúdo de dois saquinhos de Q-Suco, adoça com açúcar cristal e o leva rapidamente para saciar a sede dos viajantes que, naquela hora da manhã, já sentem o calor do dia que se inicia.
Elogios ao sabor do suco. Agradecimentos à Roseana.
Entre um copo e outro, vende um porta-seio e uma capa de mala. Aceita encomendas. É uma comerciante e uma costureira de mão cheia.
O ônibus sai. Ela deseja boa viagem ao Seu Joaquim e aos passageiros. Depois prepara mais um balde de suco e aguarda o próximo ônibus. Entre os horários confecciona mais porta-seios e outras capas de malas em tamanhos diversos.
Assim passa o dia..
E quando a noite chega, o balde volta pras debaixo da cama.
E quando o outro dia chega, tudo recomeça.
Vai um suquinho aí ??????

Beto Metri, 10 de agosto de 2009

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