domingo, 9 de agosto de 2009

ANJOS E DEMÔNIOS









ANJOS E DEMÔNIOS

Renascer

Correntes rentes se rompem ruidosas
E o silêncio silencia o momento.
Laços e abraços se afrouxam
Corroendo o sonho sonolento.

Rasga o céu o astro-rei,
acordes acordam querubins
que se trombam trombeteando sons
ativando em uivos serafins.

revolta!!!!!!!!...........

deus, demônio, anjos
urram e esbravejam irmanados,
destroem/moem estruturas
derrubando os antes revoltados.
E lutam/enlutam o mundo num instante
pra gloriosos, em brados retumbantes
darem graças com sede de verdade
matando os falsos sóis e luas de papéis
clareando tudo com o sol da liberdade.

























LEMBRANÇAS

Os olhos percorrem o espaço
Que cobre o tempo
E desfaz o mundo,
Que cobre o mundo
E desfaz no tempo
As marcas de tempo
Marcadas na vida
Vivida no espaço.

































MODIFICATÓRIO

Vovô vê a uva
O ovo é de Ivo
Barata, batata,
Batalha, batalhão,
Copo, copázio,
Boca, bocarra,
Barca, barcaça,
A aranha arranha,
O rato rói.
1 + 1 = 2

Depois de tudo acertado,
Depois de tudo aprendido,
Consumido, consumado,
Mudou-se a rotação.
Trocaram-se os pontos
E hoje...
CARTILHA RASGADA.




















Memorial

Roupa suja
guardada
no armário.

Compreendo
o artifício.

Detergente
na água
de torneira.

Compreendo
o sacrifício.

E no sujo
e no limpo
o fingimento.

Não entendo
o teu ofício.

Sê sujo
ou sê limpo,
sê uno.

E eu entendo
o que disseste.








ILUSÃO

Bateu asas rumo ao leste,
num vôo desesperado,
amargo, lento, alongado...

Deixou toca rumo ao leste,
família, levou atestado,
mudou de ares, sonhado...

Saíram todos rumo ao leste,
vida comum, tempo tentado,
uniram-se todos: um estado.

Mas depois de tudo
o rato roeu as plumas do avestruz.








































COMODAMENTE

Se é teu desejo a morte prematura,
Que ela seja realidade

Se é teu desejo o sonho de verdade,
Que ele seja realidade.

Para mim teus sonhos são nefastos,
Pois com eles sofro enormemente.

Se não posso ter-te
Em meus sonhos de alegria,
Se não posso amar-te
De verdade nos meus sonhos,
Passo a amar-te
Em pesadelos delirantes.

































LE MAL DU SIÊCLE

Calcula o tempo exato
entre a fome e a morte;

Consome o gado gordo
que esfaqueias sem medo;

Caminha pelo espaço
entre o sonho e a vida;

Diz que não te lembras
do frio que passaste;

Fala que esqueceste
do amor que em mim tiraste;

Dia que não recordas
do lugar em que habitaste;

Conta com os dedos
o calor que ofertaste;

Suga o sangue de um outro
pois o meu já se esgotou,
já tiraste até o canto
dos meus lábios triunfantes
nos momentos em que éramos
os mais felizes amantes.

E mente. E diz. E fala.
E deixa em mim só a dor.

Vai. Mente. E diz
Que te alimentas de amor.











TEMPO

E
O relógio marca
Seis horas.
O tempo passa,
O tempo corre
E nada resta.

As cordas vibram.

O som corta
O mesmo tempo
Que faz passar,
Que faz ter fim.
Tempo que se perde
No tempo
Sem tempo
De ter tempo
Pra perder tempo.

E
O relógio marca
Seis horas.

O tempo passou,
O tempo correu
E nada restou.





























CRIAÇÃO

Não havia terra, nem água,
nem vida, nem natureza,
não existia a mulher, nem o homem,
nem amor, nem ódio, nem tristeza.
Não havia males pra curar,
não havia beleza para olhar,
nem carinho, nem a quem se dar.
Era tudo escuro! Tão feio!
Não havia viagens, nem rumos,
nem sociedade, nem gente.
Nenhum deus se havia mostrado.
Não havia corrupção. Tão belo!
Não havia morte nem vida,
Nem civilizações perdidas,
nem selvagens, nem animais,
nem luz e tudo mais.
Estava faltando tudo
Até que um dia um desejo profundo
se apoderou de um Deus
e ele criou o mundo.




























MEDO

Habita um grande casa de tijolos
vermelhos em meu cérebro.

Bebo a angústia.
O desejo caminha
para a saída.

... mas no início
da viagem
é barrado
pelo medo
da impotência.

...mas no centro
do corpo
é chegado
o lado
da consciência.

...refletido
o medo
é solto
ao vento.

E a vontade
reprimida
choca-se
contra os tijolos vermelhos.













CONTRASTE

No quarto
paredes
tristeza
camas
hospital
de sonhos.

No cérebro
cansaço
sonolência
angústia
hospital
de consciência.

O cérebro
cansado
dormindo
sem sonhos
hospital
de alegrias.

O corpo
doendo
sem forças
sem tudo
hospital
de nada.

E o todo
cansado
angustiado
dormindo
hospital
de tudo.

E lá fora o dia está maravilhoso!






TRANQUILIDADE

Todo mundo
Que não pensa
É porco.
Todo mundo
Que não age
É merda.
Pensar e agir.
Comer banana
Jogar a casca
No passeio
Para alguém cair.
Tomar sorvete
Às seis da tarde
É ser tranqüilão.
Quem não é
Tranqüilo
É merda
É besta
É bosta.
Eu sou tranqüilo:
EU TOMO SORVETE .








EXPERIENCIA


O demônio ergueu-me nos braços.
Chorei?
Nem me lembro.
Gostei.
Posso afirmar

Ele é cinza claro
Risonho
Feliz.

É bom ser demônio?
Desprezado?
Ele respondeu:
SIM
... e eu tinha apenas três anos...




























PESO DE CONSCIÊNCIA



O soro de sangue coagula
a gula de ódio da mente
somente o amor enfastia
a fatia de massa cinzenta
e sentam-se sobre meus olhos
miolos que doem, que doem...


















Poema dos meus amores

De letra em letra que baila
E forma belas palavras,
Uma delas tem em Laila
O som do canto e do amor,
A candura e a ternura,
Tudo que de leve fala
Em você, musa mais pura
Laila, Laila, Laila, Laila.

Tens nos olhos penetrantes
Os apelos suplicantes
De “vem cá”
Tens o semblante arredio,
A carência de bicho no cio
De amar.
Tens o cabelo de milho,
Tens meu amor, minha filha
Clarice.

Lépida, livre Lívia
Louvo-lhe ledo e leve
As mãos moles, macias,
O rosto risonho, róseo ,
O dengo doce e deliro
E viajo em verso a você
E me alivio em amor te amando.

E depois desses três tesouros
Saí em busca de mais um mapa da mina
E encontrei a pedra mais pura
Uma jóia rara que se chama Marina.


AS SANTAS DA MINHA TRINDADE


Como no tempo
Em que eu era criança,
Decoro, agora,
No catecismo da vida,
A mais importante lição
Da mais discutida
E amada religião.
São três deusas numa só,
São três almas que compõem
A santíssima trindade
E os mandamentos
Do meu amor.
São meu Deus,
Meu pai,
Meus espíritos santos.
Minas filhas
Que ressuscitam em mim
A alegria, a perseverança
E o amor pela vida. Amem.
Recife, 1984.
















Denguinho


Menina, eu me abriguei no seu abraço,
abri meus braços pra você,
rosnei como um gatinho em suas mãos
implorando um afago e um xamego
até que sonolento adormeci.

Já não sei mais agora ficar só
olhando pro vazio de mim mesmo,
só sei viver você por todo o tempo
e não quero que aconteça um contratempo
e me faça ficar longe de você.

Um amor inteiro é o que eu te peço,
tão forte que me possa sufocar
e me faça abrir os braços novamente
apertando o seu corpo no meu corpo e
molemente, docemente e mansamente
outra vez amar você e adormecer.










SONETO DO NOSSO AMOR


Nosso cheiro se espalha pelo ar,
penetra nos lençóis de nossa cama,
cenário perfeito para se dançar
a dança do amor que arde em chama.

E os corpos nus, convulsos se enroscam
num vai e vem envolvente e cadenciado,
e se entrelaçam, se aderem, se completam
no canto doce, delirante, sussurrado.

E de repente explode em nós o gozo,
impulsionando nossos corpos pro prazer
reacendendo em labaredas esse fogo

que brilha em nossos olhos. E que pecado
desunir a perfeição destes dois corpos
agora, separados, lado a lado.



















CANTO PARA ÉROS


A maciez de tua pele
e a penugem loira, ondulada
circundam os belos favos
onde vou beber meu mel.
Teus seios nas minhas mãos,
teu corpo colado ao meu,
tudo leva-nos ao céu,
onde arcanjos e querubins
tocam canções sensuais
que se mesclam aos nosso ais,
aos nossos murmúrios de amor,
à nossa volúpia e furor.
Até que jorra de nós
o doce suco da vida
e nossos pés tocam as nuvens
do mais belo paraíso.


























NÁUFRAGOS


Meus dedos tocam estrelas,
tateiam teu céu,
percorrem vales, montanhas
e os olhos cerrados
vêem prazer pelo tato.
A maciez dos teus mares
convida para o mergulho.
E teus dedos no meu mundo,
tuas mãos no meu prazer,
aguçam o olfato,
despertam o instinto
e na mistura dos sentidos
temos mãos entrelaçadas
no contato terra e céu,
nas águas em que mergulho
e me inebrio
no vai-e-vem de nossas ondas.














DESEJOS

Quero ser romântico,
irreverente, indecoroso.
Quero pornografia,
quero dizer asneiras.
Quero sussurros
e gemidos da fêmea no cio.
Quero apertos, abraços,
quero o corpo nu
rolando na cama macia,
co chão, na mesa,
agarrado a outro corpo,
mergulhado no fundo do poço
da mulher que implora
mais e mais e mais
e eu implorando também
\mais e mais e mais.
As mãos nas costas,
o peito no peito.
Deitados, de pé, de cócoras.
Mas quero muito
e quero mais:
quero beijos quentes, longos,
línguas entrelaçadas,
cheiro de sexo no ar.
Quero um corpo feminino
que engula e triture esse menino
que sou e que quer mais.
Quero quebrar a cama,
quero ficar sem sono
e amar e amar e amar.
E depois sentir seu corpo
por cima do meu corpo
adormecida, extasiada,
feliz, muito amada.
E te acordar com um beijo.
E tudo recomeçar.







DESCRIAÇÃO


Uma porção de água,
uma porção de terra:
um monte de argila,
de barro úmido e mole.


...e te moldo
...e te sopro
...e te falo
...e te amo
............................................
e te fiz minha
e te tornei minha posse
............................................
Na água se excita,
a terra se excita,
move em minhas mãos e...
... te perco.

E na minha terra
e na minha água
tento dissolver-te.













BAIXO-ASTRAL


Ergue-se a taça do néctar
vivo, vermelho e das vísceras
rompe o silêncio do tudo
que tortura e tritura o som
do bater do coração
que se estilhaça
de encontro ao desejo
de pedir um beijo,
de implorar carinho,
de querer sua fala,
de querer sua boca
que bebe o meu sangue,



















GRANDOMEM
para CDA



Seu pensamento é sua força.
Sua força, sua grandeza.
Sua grandeza entontece
minha mente
e me emudece.

Seu pensamento
em palavras
transforma
o que sinto
em palavras,
o meu pensamento
em ação,
em imagem:
a ação da imagem,
a imagem na ação,
a imaginação.

E sua força vertida em voz
emudece a minha
e me faz compreender
sua grandeza.















RENASCIMENTO



Estou grávido
e já percebo
no volume do meu ventre
o que se esconde,
o que espera ser parido.
Trago dentro
do meu corpo
um bicho estranho
que absorve do meu sangue
a essência da vida,
que puxa de meus miolos
todo o meu conhecimento,
que domina em minha alma
a aura, a luz que se acende
e que me mostra sempre vivo.
Concebido em segredo
pelo anúncio de um anjo
que veio pelo demônio,
trago hoje no meu corpo
o feto de um bicho,
a fúria de um animal
que se completa em mim
e que num parto sem dor
trará, parido pra vida,
o verdadeiro homem que sou.
















REFLEXOS



Absorto e tonto me observei
no espelho de teus olhos.
E qual Narciso contemplei
procurando a beleza no presente,
mas recuei no tempo e no espaço,
pois no presente vi o feio,
e o frio, e o fogo dos meus olhos
a me ver e me queimar
e me tornar num Ícaro
que incendeia suas asas
e se transforma em Fênix
que se consome em cinzas.

De volta ao espelho
seus olhos miram
o punhado de pó
da beleza de Narciso
que agora é infeliz.



























VIDA



O relógio do existir
marca a hora de ser.

O pêndulo pende
para o centro
do hemisfério cerebral.

E a corda se desfaz
nos anos que passam
relogicamente















O ENTERRO

O céu hoje .está cinzento,
nem os cães estão latindo.
Os gatos não miam,
os galos não cantam.
E o dia vai seguindo
pachorrento e agoniado.
No alto-falante da igreja
toca o “pannis angelicus”
e o padre com voz de tristeza
anuncia e faz o convite
para o cortejo fúnebre.
Lojas com as portas cerradas,
todos com olhar de respeito.Um diz que ele foi tão bom,
outro que ele foi grande homem,
coitado, não fez mal a ninguém,
morreu como um passarinho...
E bem lá no fim da rua
uma casa toda aberta
com cheiro de flores no ar.
É chegada a triste hora,
baixam a tampa do caixão,
viúva e filhas aos gritos.
E a pé pela ladeira
quatro homens muito sóbrios
carregam o finado Joaquim.E lá atrás alguns gargalham
com a mais nova do papagaio.


















PALMA

Das pedras das ruas
sobe o cheiro de estrume.
Das pedras das ruas
sobe o cheiro de mato.


Mato o cheiro de estrume.
Mato o cheiro de mato.


Eu moro nas pedras das ruas
e morando me acabo nas pedras
e de estrume e de mato eu me mato.




















NATAL



No céu pardacento
de sol e cimento,
a proposta.

Na lua espalmada
na palma, no peito,
a derrota.

No seio do mundo
de putas e trapos,
de roubos e mortes,
estupros e merdas

HADOISMILANOS
vem nascendo Deus.











SOLUÇAO

Sodoma e Gomorra
transpostas às veias
são moradas do sangue.

Caos, balbúrdia, anarquia.

A Torre de Babel
edificada nos cérebros
babeliza os pensamentos.
Num carro de fogo,
no rumo do sol,
com vestes de prata,
com fardas de púrpura,
caminha a existência
para o deserto.

O Éden está longe
e a terra prometida, distante.

Caos, balbúrdia, anarquia.

Apolo ama Afrodite,
Eros une-se a Zeus,
Baco na Roma de Nero
recruta seus Caxias
para a guerra no Olimpo.

Caos, balbúrdia, anarquia.

O bezerro de ouro de Baco
e a arca da aliança perdida
nas cinzas de Sodoma e Gomorra,
no solo do mundo de Messias.

Caos, balbúrdia, anarquia.

Surge um Mecenas na Grécia,
À América vem Moisés,
Michelangelo adorna os planaltos
na terra prometida de Santa Cruz.

“Este” mundo transforma-se em Fênix
e renasce, íntegro, do pó.





PANNIS ET CIRCENSES

Rangeu os dentes de desgosto
àquilo que de longe vira
mas para mostrar-se forte,
com uma atenção muito vaga,
deu, com um aceno de mão,
continuidade ao espetáculo.
- Isso é fácil para ele –
indignado, diz o ator,
eu fui seguir meus instintos
e os instintos foram cortados
e como estátuas modelados
para acostumar-me com tudo.
Agora corro pela vida
e agora vivo na morte,
nas vida sem liberdade,
na liberdade com grades.
Corro em busca do “eu sou”
mas nem encontro o “sou eu”.
Busco a luz do horizonte
e só encontro luz de “flash”,
holofotes coloridos
que só cego eu acredito
serem o sol da liberdade.
- E o espetáculo continua.
Mais um ator entra em cena,
mais de milhões entram em cena
e acreditam na felicidade
vivendo o espetáculo do dia-a-dia
per omnia secula seculorum
AMEN.








FIM
(para Celso José Ferreira Gomes)

...e o cavalo relinchava bem alto,
sons agudos, graves, semitons,
verdadeiros relinchos musicais.

...e o homem relinchava bem alto,
sons agudos , graves, semitons,
verdadeiros relinchos musicais.

Homem e cavalo irmanados
matavam cobras e javalis
nas selvas cobertas de sangue,
no crepúsculo avermelhado.
E sondas submarinas
evacuavam-se no vácuo
vago de vagas e valas,
cavalos, vassalos, cavacos
de lenha de pau- brasil.
E quando a carnaúba se tingia de roxo
não sobrava nada além do eco
oco nas ocas dos índios
e padres que apadrinhavam
os rebentos abortados.

Lactescente a via- Láctea
ladeada de cogumelos
comidos e atômicos
reluzia ao compasso
das batidas descompassadas
do coração no meu cérebro.

E Júpiter tonante, apaixonante
num apaixonado abraço com o papa...

E o eco repetia meus pensamentos
à turba imoral
que mostrava os dentes
ao espetáculo.

E todos numa vala comum coberta de cal.


















VIVER

Luta pelo vôo,
voa pelo ar
e areja teu cérebro.

Luta pela vida,
vive tua luta
e enluta teu vôo.

Luta pelo almoço,
arrota tua fome
e pára de lutar.

Pois esta luta
te entala, te enlata
e te cala.







ENGANO DOS SENTIDOS



... e instintivamente
saltar a porteira
e poder correr.
Mas cortaram minhas pernas...
hoje sou um carneiro coxo.

...e instintivamente
beber água na fonte
e poder saciar-me.
Mas cortaram minha língua...
hoje sou um carneiro mudo.

...e instintivamente
cortar a vida
e poder
começar e encerrar
enclausurar e libertar
emudecer e gritar
conversar e calar
retroceder e avançar
pois cortaram o meu todo
e hoje...
era uma vez um carneiro.









CREDO

Creio na esperança do homem
e em nossa liberdade.
Creio num claro futuro,
e creio no forte presente
criador de mentes e braços
que constroem a cada dia
o pão vivo que alimenta
a fome de sede e justiça.
Creio no homem que abraça
e estrangula sua tristeza.
Creio no meu companheiro
de descansos e labutas,
que ergue com sua vida
as paredes do amanha
e que fornece aos seus filhos
a certeza de um mundo humano
sem fracos dominadores
e sem fortes dominados.
Creio no hoje que reage,
creio no homem que derrota,
creio em nós e em nossa força,
creio em nossa redenção,
que há de durar para sempre
per omnia secula seculorum, amen.










O CIRCO




Rufam tambores. A orquestra toca.
E em meio ao burburinho
de pipocas, chicletes, pirulitos,
majestosamente ouvem-se apitos.
O espetáculo principia.
- Senhoras e Senhores, amigos da terra
O Grã Circo Libertas
traz para vocês
arrepios, suspense, gargalhadas.

Pagamos para assistir nossa glória,
investimos para ver em nossos rostos
mágoas, sonhos e alegrias,
ilusões e emoções de verdade,
que expõem na festa que é nossa
no Grã Circo Libertas (liberdade).

E que surpresa ao vermos o espetáculo
pacificamente nas arquibancadas.
No picadeiro os circenses rindo
de nossas caras palhaçadamente pintadas.













ILUSÕES



Estamos nos enchendo
de vazios imensos e fundos
como se fossem a barriga do mundo
virada pelo avesso
e sacudida ao vento
à mercê do medo.

Fontes luminosas
e espetáculos pirotécnicos
produzem festas
agradáveis aos olhos
abertos para a ilusão
arregalados para a esperança.

E eu ainda choro
pela vala imensa
aberta no chão
pelo homem iludido
que nem sequer percebe
o histerismo gritante
do funeral
de sua falsa liberdade.









PANORAMA VISTO DA JANELA

( Edifício Pirapama, Av. Conde da Boa Vista – Recife - 1984)

O carro engole o asfalto
e seus olhos luminosos
fazem bordados no chão
enfeitados com a água
que escandalosamente
se arrasta e se insinua
qual prostitua vadia
nos cantos, de poça em poça.

Nas janelas do prédio em frente
mulheres tricotam, cochicham,
homens lêem jornais
e não se preocupam jamais
com os filhos fazendo algazarra,
na sala de luz azulada
da TV que fala em mortes,
eleições, chuvas, combates,
guerrilhas, comerciais
de sabonetes cheirosos,
de remédios pavorosos,
de carros, perfumes, cigarros.

Uma se veste e se arruma,
um se enfia em seu pijama,
a empregada atende a porta,
com o bebê ninguém se importa.

As visitas, os beijinhos
e os olhos descem pro chão,
pras barracas, pras pessoas
que em vão se escondem da chuva
e entram na lanchonete.

A noite corre apressada,
bonecas em profusão
requebram e dão com as mãos
no ar com um molejo gracioso.
Os pontos de ônibus cheios
de gente que volta pra casa...

Pena que ninguém faça como eu
e olhe pra minha janela,
dê um aceno com a mão
ou venha me fazer companhia.








TELA


Século
que passa
e volta
recuperado
ressurgido
revivido
numa tela.

Tela
mostra
tempos idos
vividos
que serão
sempre vivos.

Tela mostra
em tintas
dissolvidas
história
das gentes
gerações
infinito
espaço.

Historia
da raça
extinta
retratada
na tela
pintada.





















EPITÁFIO

A quem possa interessar,
saiba que a vida perdura
no sonho desse menino
que agora no sono da morte,
no céu ou no paraíso,
preferia estar no inferno
e no fogo do mundo dos vivos.

Um comentário:

Celso Roncarati disse...

Beto, que surpresa - e que honra! Me lembrei do Colégio dos Jesuítas, em Juiz de Fora, onde líamos Guerra Junqueira, em sua "A Velhice do Padre Eterno".
Pois eu estou em BH e ... tantas coisas, meu amigo da juventude, tantas... Tenho para mim que o saldo é bom. Aliás, ter esse contato com você faz parte do saldo positivo. A gente se vê, ah, que a gente se vê mesmo.
Saudades de Palma, que conheci por ocasião de seu casamento, com direito a seresta e picolé de cachaça.
Grande abraço, meu amigo.
Celso