domingo, 9 de agosto de 2009

A CONSULTA DE LINDINHA



- Papai, cuidado com a língua!
É sempre assim que as conversas começam, continuam ou terminam na casa de Serafim Falcão, quando a família está reunida. Romilda, a caçula, freqüentemente é quem faz a advertência, pois Serafim não tem travas na língua, não é profundo conhecedor da gramática nem tem um rico vocabulário. Serafim não usa gírias mas não tem linguagem polida nem culta. Para ser mais claro: Serafim é o que se pode chamar de “ bronco”.
Na cidade, todos conhecem a fama de Serafim. Bom para fazer filhos e escolher os nomes, Serafim, além de Romilda, tem outras filhas: Cremilda, Clemilda, Elenilda, Serenilda, Lucenilda, Verilda; e quatro filhos; Jorge Clésio, Clésio Jorge, Adolfo Astolfo e Astolfo Adolfo. Todos filhos da mesma mãe, a risonha e feliz Dona Emerlinda.
A vida corria tranquila e feliz, até que um dia Dona Emerlina acorda meio abatida. Sem forças para se levantar, chama Serafim.
- Serafim, meu anjo, pede pra Serenilda fazer o café e mexer o angu porque tô meio desanimada hoje.
- Que foi, Lindinha? ( é assim que Serafim chama Emerlinda) Ainda ontem quando a gente se deitou ce tava boazinha de tudo.
- Pois é, Serafim, aconteceu...
Serafim fica meio apavorado. Chama Verilda.
- Verirrrda, minha fia. Vai no quintá, pega umas panacéia, junta cum pouqim de erva cidrera, erva doce e sete sangria e faz um chazim pra sua mãe.
- Pra que isso, meu pai? Assim a mãe vai explodir!
- Explodindo ela já ta e eu num sei mais o que faze.
Cremilda, mais despachada das filhas, sugere que Serafim leve Emerlinda ao médico.
Serafim analisa a proposta da filha e conclui que o melhor é levar Lindinha ao consultório do Doutor Sócrates. Aí tem um detalhe: Doutor Sócrates tem uma clientela muito grande. O consultório muito cheio, a salinha de espera constantemente abarrotada. Difícil uma consulta de emergência. Mas a amizade entre Serafim e Doutor Sócrates facilita tudo e a secretária – Dona Claudete, esposa de Doutor Sócrates - marca um horário para Ermelinda.
- Papai, cuidado com a língua! – adverte Cremilda.
- Pru mode de que?
- O senhor sabe, né pai, o que é que a mãe tem!?!?
- Ta certo, Cremirda. Mas, o que é que ocê quer que eu fale?
- Olha, pai, eu vou dizer o que eu quero que o senhor naio fale:Shshshshs....bunda: é nádega ..shshsh.....cagar: é defecar, pode ser até fazer cocô... shshsh....mijar: é urinar ou fazer xixi....shshsh...mamá: é seio...shshsh....cu: é anus...shshs...peidos: são gases...
Cremilda então explica direitinho. Tim-tim por Tim-tim o que é que Sreafim pode dizer e o que é que Serafim está terminantemente proibido de falar, visto que ele não permite que ninguém, a não ser ele, acompanhe Lindinha nas visitas ao médico e ao dentista. Depois, Cremilda chama Adolfo Astolfo para ajudá-la a colocar a mãe no carro e seguem todos para o consultório.
Doutor Sócrates está com a agenda lotada naquele dia. E quando sabe que Serafim havia marcado consulta para a “Lindinha”pensa:
- É hoje!!!
Chega a turma de Serafim: Serafim Emerlinda, Cremilda, Adolfo Astolfo e Serenilda. Sreafim pede a Dona Claudete pra dar uma apressadinha no atendimento. Ele tem receio de que Ermelinda comece a sentir o mal-estar que vem sentindo em casa... Cremilda olha para um lado. Serenilda olha pra outro. Adolfo Astolfo se levanta. Chega a hora. Emerlinda é conduzida para dentro do consultório. Serafim a acompanha. Serenilda e Adolfo Astolfo rezam. Cremilda se benze e cruza os dedos.
- Deus permita que papai faça tudo certinho - reza Serenilda.
- Papai, cuidado com a língua! – adverte Cremilda.
Emerlinda tem vergonha de se consultar e fará o que que sente perto das meninas. Fica, também, envergonhada de dizer para o Doutor quais os sintomas de sua doença. Serafim, então, começa a falar:
Primeiro, pausadamente.
- Bem, Doutor... o que acontece..... ééé...... eu acho que a Emerlinda....bom.....hummmmmmm!!!!
Depois, dispara:
- Bem Doutor, o negócio é o seguinte. De uns dias pra cá a Emerlinda começou cum incômodo no istômago, que desce pras tripa e de repente...huuummm... de repente ela fala que ta cum ..gás. uffa!!! Aí a gente tem que sair de perto. Ela cumeça a explodir. E explode mesmo! Começa a solta uns peido fedorento que só.E espoca daqui, espoca dali, explode um, explode outro. E solta cada peidaço que ninguém aguenta fica perto. Aí a gente fala: Vai, Lindinha, vai na casinha. Vai desafogá isso. Ela vai. E continua a peidá. E solta cada peidaço que cá de fora a gente iscuta. De repente cumeça a cagá.. E caga cada pelotaço desse tamanho e a gente cumeça a ficá preocupado. Aí a catinga se espalha pela casa toda. Os vizinho já cumeçaro a reclamá . E nóis, Douto , tamo também preocupado e truxemo ela aqui pro sinhô vê . É que pelo tamanho dos pelotaçi que ela anda fazendo a gente quer sabe cume que ta a situação do....dô....do... huummmm..bom............
Aí Serafim se enrola , não consegue dizer o que quer, abre a porta do consultório e grita bem alto:
- Cremirda.... Como é mesmo o apelido do c*=#*u da sua mãe?

3 comentários:

Unknown disse...

Já escutei muito essa história, mas não com tantas preciosidades de detalhes!!Muito engraçada.

Sonia Canellas disse...

Esse causo eh sempre muito bom!!! Estou aguardando a historia daquele "brimo" ligeiramente hipocondriaco.......

betometri.blogspot.com disse...

Esse causo só conhecia o epílogo, onde refere-se ao apelido do dito cújo (o acento foi de propósito).

Ass.: Paulo Sérgio