sábado, 22 de agosto de 2009

SHOW DE VARIEDADES DE HELVECIO NOGUEIRA SUCESSO NAS NOITES DE PALMA



...tenho ciúme do sol, do luar do mar,
tenho ciúme de tudo,
tenho ciúme até
da roupa que tu vestes.
- Não, Seu Antônio. Tira um tom mais alto um pouquinho só!
- Então, vamos lá!
Nesse momento, toda a Rua do Cinema ouve a voz da Nair, que ensaia a música do Orlando Dias, que ela pretende cantar logo mais, à noite no Show de variedades do Helvécio Nogueira.
Enquanto isso, no pequeno palco do Cine Brasil, vai sendo montado o esquema para o show que será apresentado a partir das oito da noite.
Numa mesa, no canto à direita, são expostos os prêmios que serão sorteados entre os espectadores do espetáculo.
A cortina de tecido acetinado vermelho é fechada na frente da tela recém-inaugurada de cinemascope.
A pequena caixa de som, com amplificador, é colocada logo atrás da mesa. É dela que sairá o som do violão tocado pelo Sr. Antonio Agrícola, o músico responsável por acompanhar os cantores, cantoras , calouros e calouras do show.
As crianças, em suas casas, juntam todo tipo de quinquilharia para o show. Logo mais os bolsos estarão cheios de palitos de fósforos, pregos, folhas de papel de carta Copacabana, maços de cigarros vazios, anéis, alianças, balas, chaves, caixinhas de chicletes Adams, e mais uma variedade imensa de objetos.
Pouco antes do show começar são abertas as inscrições para o show de calouros.
Os cantores e cantoras palmenses se esmeram no figurino. As meninas já foram na Dona Neuza e na Maria Leite. Rolinhos nos cabelos, secador e penteados. Os rapazes procuraram as barbearias do Gesney e do Cidinho para cortar os cabelos e acertar os bigodes. Laquê e gumex completam os penteados na saída para o show.
O Cine Brasil, palco do espetáculo está todo iluminado. Do lado de fora as lâmpadas também foram acesas. Ingressos vendidos, todas as cadeiras ocupadas. Mas ninguém quer ficar de fora. Alguns voltam em casa ou vão até o Bar Tip Top ou no Leão da Esquina e conseguem cadeiras emprestadas. O corredor que já era estreito se enche de cadeiras extras.
É por esse corredor apertado que o animador do show faz sua entrada.
- Com vocês, Helvécio Nogueira e o Show de Variedades.
Com a voz grave que lhe é característica, Helvécio, ovacionado pela platéia, dá o seu :
- Boa Noite, querido público.
E o espetáculo começa. Pelo palco do Cine Brasil desfila o grande time de astros e estrelas da música palmense..
José Machado, fazendo como sempre ritmo com os pés, canta , de Agustín Lara, Solamente una vez.
Marta Torres, de Margarida Lecuona, canta o grande sucesso de Ângela Maria. Seu Antônio dá a introdução e Marta começa:
Está empezando el velorio
Que le hacemos a Babalú
Dame diecisiete velas
Pa pornelas en cruz
Dame un cabo de tabaco, mañiengue...

O agudo que dá em Babalúúúúú encanta a todos.


O público aplaude


O galã, Ciro de Castro , sobe ao palco. Os brotos quase deliram. E Ciro interpreta:
Bonequita linda

De cabelos loiros
Olhos de cristais
Lábios de rubi.
Lena, que tem olhos azuis, e é o grande amor de Ciro, também encanta a todos , cantando um grande sucesso de Dalva de Oliveira.
A seguir, Helvécio, com o timbre de Nelson Gonçalves, apresenta, de Benedito Lacerda e David Nasser, A Normalista
Vestida de azul e branco

Trazendo um sorriso franco

No rostinho encantador

Minha linda normalista

Rapidamente conquista

Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado

Dentro do peito guardado

Meu coração sofredor

Estou bastante inclinado

A entregá-lo ao cuidado

Daquele brotinho em flor
Mas, a normalista linda

Não pode casar ainda

Só depois que se formar...

Eu estou apaixonado

O pai da moça é zangado

E o remédio é esperar

O apresentador chama uma criança para fazer um sorteio. Ela tira o número 17. José Antonio , todo feliz, busca seu prêmio: Um sabonete eucalol e um vidro de extrato Dirce.
Em seguida, Helvécio anuncia:
-Quem me trouxer um papel de bala Juquinha, ganha dois picolés do Bar do Benedito.
A criançada sai correndo em disparada. Pulam por cima das cadeiras, pisam nos pés dos outros e vão correndo pela rua do Cinema, àquela hora vazia. Todos estão no show.
Enquanto as crianças procuram pelos papéis, o apresentador agradece aos patrocinadores: Casa Azul, de Elias Abdalla, Bar do Benedito Amaral, Bar Rio Minas, do Seu Duarte, Sapataria São Crispim, de João Pereira Gomes, Seu Osvaldo e Dona Aurora, do Leão da Esquina , Oficina do Pedro Chicre e Açougue do Juquinha.
Rapidamente, entra um moleque gritando e mostrando na mão um punhado de papel de bala. Sobe a pequena escada de madeira que dá acesso ao palco e despeja todos eles sobre a mesinha. Helvécio confere e entrega um vale para o menino pegar o prêmio.
Em seguida, entram os calouros.
Depois, Nair canta o sucesso de Orlando Dias e Walter Moura, debaixo de aplausos e gritos, canta Conceição, sucesso de Cauby Peixoto.
Para encerrar o show, Helvécio convida o grande ator, Hélcio Marcenes, fundador do Teatro de Amadores Palmense, que emociona a todos com o belo poema “As mãos”.
Para que servem as mãos? As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever...... ... foi com as mãos que Jesus amparou Madalena; com as mãos David agitou a funda que matou Golias; as mãos dos Césares romanos decidiam a sorte dos gladiadores...
Aplausos. Muitos aplausos.
O público aplaude de pé.
Despistadamente, alguns espectadores enxugam um lágrima que cai.
Hélcio agradece. E Helvécio, vitoriosamente, encerra mais um Show de Variedades.
– Muito obrigado. E até o próximo Show , se Deus quiser!

Palma, 22 de agosto de 2009.






















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