domingo, 28 de março de 2010

Anacleta e Antoninho.

Corre o ano de 1964.

O rádio da Casa Azul constantemente ligado transmite as notícias. E a gente morre de medo. Afinal,
" comunista come criancinha" (não era assim que se dizia?) As notícias das tropas que vão sair de Juiz de Fora enchem-nos de pavor. Afinal, é muito perto de Palma.
Mas, no Grupo Escolar Artur Bernardes é como se a revolução não existisse. Na rua de saída para Miracema as obras das Escolas Reunidas Alzira Carvalho Santos estão quase concluídas. Breve a cidade será dividida em duas. Da pedreira pra cima, as crianças terão que estudar " no Alzira " Da pedreira pra baixo ,continuam no Artur Bernardes. Alguns vêem nessa divisão algo mais do que isso: as crianças, filhos e filhas de udenistas , irão para o Alzira. Os " filhos do PSD" irão para o Artur Bernardes. Nós, crianças não estamos nem aí!!!
Na sala da professora Dona Odair, os alunos se preparam para mais um clube de leitura.
As crianças bem ensaiadas se concentram para a apresentação. Anacleta está nervosa. Afinal será a maior atração do dia. Ela ensaiou exaustivamente uma música. E espera ansiosa pela apresentação. Pela exibição. Pela beleza que promete ser sua cantoria.
Dona Odair anuncia. Anacleta se dirige para a frente da sala. Num canto, Felix aguarda, também, sua vez. Um pouco mais tarde, Seu Oliveiros deve ter morrido de vergonha ao ouvir , lá do Posto de Saúde, os trinados do Felix cantando a música da Iracema. Mas isso é história para um outro dia. Hoje eu quero me lembrar da Anacleta.
Muito magrinha, Anacleta vai para a frente da sala. Faz a pose inicial. E começa a cantar e gesticular uma musiquinha triste e engraçada ao mesmo tempo. Vamos á letra da bela composição. Não vale rir.

- Antoninho , tu vais a aula,
pois precisa aprender.
- Mamãe eu não vou à aula
porque sei que vou morrer,
mamãe eu não vou à aula
porque sei que vou morrer.

Antoninho saiu chorando,
chorando pelo caminho,
quando subiu a escada
já estava soluçando.
quando subiu a escada
já estava soluçando.

Veio um mestre lá de dentro
segurou-o com uma das mãos
tirou um punhal do bolso
e enfiou num coração
tirou um punhal do bolso
e enfiou num coração.
(é isso mesmo:"Num coração")

Fecha a porta, fecha a janela
quero tudo na escuridão
quero dar-te um beijinho
antes de fechar o caixão,
querodar-te um beijinho
antes de fechar o caixão.

Abre a porta, abre a janela
quero tudo na claridade,
Adeus, meu Antoninho
que já vai pra eternidade.
Adeus, meu Antoninho
que já vai pra eternidade.

Nessa hora, Anacleta sacode os braços, dando adeus. A platéia se emociona. Ela agradece os aplausos. É a consagração..
............................................................................
2010. Mês de março. Anacleta de volta em Palma. Eu a encontro. E pergunto se ela se lembra. Ela, de imediato, cantarola alguns versinhos. Na minha mémória e na do Felix, eles estão inteiros. Ligo para ele. Nós três, Anacleta, Felix e eu, por uns momentos, nos reportamos àquele ano de 1964. E a felicidade da infancia é revivida.
Agradeço a Deus e à nossa memória.

15 comentários:

Anônimo disse...

Pai, que linda esta historia. Fico tao feliz de ver voces relembrando o passado. Isso eh pura felicidade. Amo voce e o Tio Felinho ta!!!! Livia

betometri.blogspot.com disse...

No alto da caixa d'água,
morava a linda morena,
morreu envenenada
a pobre da Iracema.

O noivo da Iracema
chorava de tristeza
Por ver sua amada noiva
Em cima de uma mesa

O pai da Iracema
Chorava de compaixão
Por ver sua amada filha
Dentro de um caixão

O enterro da Iracema
Parecia uma procissão
acompanhada pelos operários
da fábrica de macarrão.

Obs.: O banco de memórias aqui de casa, foi ativado.

Ass.: Paulo Sérgio.

Unknown disse...

Essa música, foi cantada pelo meu avô desde que eu sou garoto, sou de seus netos o único que lembra da letra. É a musica que ele mais gosta... queria pedir um grande favou se possível me mandar a cifra da canção e a canção em mp3... meu e-mail é: marcoskcoelho@gmail.com

grato,
Marcos

Unknown disse...

caraca... pensávamos que só a nossa família conhecia a trágica história de Antoninho (e tragédias congêneres).
cresci embalada com esses horrores e fiz o mesmo com meus filhos. Mande-me mais histórias, por favor.

Marisa disse...

Gente!!! Tô passada!!
Faço minha as palavras da Cássia, acima citada!!
Tenho 55 anos, eu e meu irmão de 53 anos;chorávamos qd minha mãe, nos pondo para dormir, cantava "Antominho tu vais à aula"!! rsrs
Meu avô era mineiro, e se não me engano, era ele quem cantava essa cantiga para os filhos...
A cantiga da Iracema, minha tia cantava para minha prima...
Hoje acordei com meu filho de 30 anos me ligando para dizer que havia acordado com a cantiga do Antoninho na memória, e então cantou para seu filho de 3 anos, pois o mesmo não quer ir para a escolinha (maternal)...
E foi pesquisar na internet... então achou seu blogger...
INTERESSANTE!
EMOCIONEI!
VLW!
Marisa

PS.: Gostaria de saber de onde a Anacleta tirou tal cantiga, se possível, ok! Grata!
(meu email: marisarpb@hotmail.com)

Marisa disse...

Ah! Faltou dizer que na letra que a mamãe cantava; não era "mamãe" e sim "papai" (oh meu PAI não vou à aula, porquê sei que vou morrer)

Rejane Paiva disse...

Rapaz! Adorei a letra da canção do Antoninho! Não conhecia, apesar de ter passado tb a infância em Minas, que continua sendo palavra abissal. Conheci a da Iracema. Vou juntar-me aos pedidos: não dá para cantarolar a cantiga do Antoninho e postar ou enviar-nos a gravação? Gostaria muito de conhecer a melodia. Obrigada. (rejpaiva@gmail.com)

Sol Costa disse...

Qdo eu era pequena minha mãe cantava essa musica o dia inteiro

Sol Costa disse...

Qdo eu era pequena minha mãe cantava essa musica o dia inteiro

rosegrims disse...

Minha avó cantava a estória da Iracema e eu cantei para meus filhos e netos...tentei pesquisar a origem e parece ser do folclore português e veio para cá com os imigrantes...ainda tenho a melodia em mente...será que existe alguém que gravou ? Quem tem parentes em Portugal poderia pesquisar ?
Meu e-mail é grims.rose@gmail.com

Obrigada !
Rose

Janaina Quadros disse...

Quero conhecer a Anacleta 😍🌹
Chorava muito qdo era criança e minhas irmãs cantavam p mim, hoje eu canto para minhas filhas hehehehe

Unknown disse...

Folclore nada,aconteceu mesmo ,lá pelos início dos anos 1800.
Em matinhos Paraná .
Tenho uma teoria fortíssima para acreditar ...
Pesquiso o caso há anos ...

Unknown disse...

Tenho 62 anos e hoje lembrei da música da Iracema, minha mãe cantava para meus filhos e eu cantava também para meus netos.

Luiz Fernandes disse...

Minha avó, 99 anos, canta, uma versão dessa música, até os dias de hoje...

Anônimo disse...

Amei. Gostaria de ouvir a música 🎵