domingo, 28 de março de 2010

PARA ONDE FOI O LEÃO DA ESQUINA?



Eu me lembro do Seu Osvaldo e da Dona Aurora. Dos filhos , também.
Mas na minha lembrança,a presença do Leão que ornava a fachada do prédio da esquina é muito forte. A lâmpada que era acesa todas as noites. Aquela figura forte. Aquele rei que reinava em toda a Rua do Cinema. Era atração pra criançada.
No prédio do leão já teve venda, bar, mercadinho, picolé,bar do Seu Antonio Florindo com as famosas e saudosas "brincadeiras" de domingo, quando a sala da casa dele se enchia de jovens dançando ao som de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Agnaldo Timóteo, The Beatles e uma quantidade imensa e variada de cantores e cantoras de todos os estilos.

E o leão lá em cima, reinando absoluto.

Um dia, demoliram o casarão da esquina.
O leão chegou até a ser destaque num desfile da Escola de Samba Unidos de Última Hora. Depois, dormia aqui, dormia ali e o reinado chegou ao fim. Mas as lembranças continuam vivas.
Aí, eu pergunto: pra onde foi o leão?
Alguém tem notícia dele?
Pra selva, tenho certeza que ele não foi, pois leão de cimento não reina por lá.
E ele continua reinando em muitas lembranças de muitos palmenses.
Se você o viu por aí, me diga.
Se você tem uma foto onde ele aparece, mostre pra nós.
Porque se nossa memória enfraquecer, o leão some.
E eu não gostaria que isso acontecesse.

Anacleta e Antoninho.

Corre o ano de 1964.

O rádio da Casa Azul constantemente ligado transmite as notícias. E a gente morre de medo. Afinal,
" comunista come criancinha" (não era assim que se dizia?) As notícias das tropas que vão sair de Juiz de Fora enchem-nos de pavor. Afinal, é muito perto de Palma.
Mas, no Grupo Escolar Artur Bernardes é como se a revolução não existisse. Na rua de saída para Miracema as obras das Escolas Reunidas Alzira Carvalho Santos estão quase concluídas. Breve a cidade será dividida em duas. Da pedreira pra cima, as crianças terão que estudar " no Alzira " Da pedreira pra baixo ,continuam no Artur Bernardes. Alguns vêem nessa divisão algo mais do que isso: as crianças, filhos e filhas de udenistas , irão para o Alzira. Os " filhos do PSD" irão para o Artur Bernardes. Nós, crianças não estamos nem aí!!!
Na sala da professora Dona Odair, os alunos se preparam para mais um clube de leitura.
As crianças bem ensaiadas se concentram para a apresentação. Anacleta está nervosa. Afinal será a maior atração do dia. Ela ensaiou exaustivamente uma música. E espera ansiosa pela apresentação. Pela exibição. Pela beleza que promete ser sua cantoria.
Dona Odair anuncia. Anacleta se dirige para a frente da sala. Num canto, Felix aguarda, também, sua vez. Um pouco mais tarde, Seu Oliveiros deve ter morrido de vergonha ao ouvir , lá do Posto de Saúde, os trinados do Felix cantando a música da Iracema. Mas isso é história para um outro dia. Hoje eu quero me lembrar da Anacleta.
Muito magrinha, Anacleta vai para a frente da sala. Faz a pose inicial. E começa a cantar e gesticular uma musiquinha triste e engraçada ao mesmo tempo. Vamos á letra da bela composição. Não vale rir.

- Antoninho , tu vais a aula,
pois precisa aprender.
- Mamãe eu não vou à aula
porque sei que vou morrer,
mamãe eu não vou à aula
porque sei que vou morrer.

Antoninho saiu chorando,
chorando pelo caminho,
quando subiu a escada
já estava soluçando.
quando subiu a escada
já estava soluçando.

Veio um mestre lá de dentro
segurou-o com uma das mãos
tirou um punhal do bolso
e enfiou num coração
tirou um punhal do bolso
e enfiou num coração.
(é isso mesmo:"Num coração")

Fecha a porta, fecha a janela
quero tudo na escuridão
quero dar-te um beijinho
antes de fechar o caixão,
querodar-te um beijinho
antes de fechar o caixão.

Abre a porta, abre a janela
quero tudo na claridade,
Adeus, meu Antoninho
que já vai pra eternidade.
Adeus, meu Antoninho
que já vai pra eternidade.

Nessa hora, Anacleta sacode os braços, dando adeus. A platéia se emociona. Ela agradece os aplausos. É a consagração..
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2010. Mês de março. Anacleta de volta em Palma. Eu a encontro. E pergunto se ela se lembra. Ela, de imediato, cantarola alguns versinhos. Na minha mémória e na do Felix, eles estão inteiros. Ligo para ele. Nós três, Anacleta, Felix e eu, por uns momentos, nos reportamos àquele ano de 1964. E a felicidade da infancia é revivida.
Agradeço a Deus e à nossa memória.

domingo, 14 de março de 2010

ATENDENDO A PEDIDO


























Na foto, equipe de atletas da
Escola Técnica de Comércio
Nossa Senhora Aparecida, em Palma,
na década de 1960.
Ulisses, Carlinhos, Raymundo,
Zequinha, Ivan e Heitor.


N'O Califa , nossas lembranças são alguma coisa a mais do que simplesmente
um retrato na parede.
Um comentário, uma nova história a respeito de uma fotografia,
uma lágrima que cai, um sorriso, uma sonora gargalhada.
As fotografias são mais do que a história de uma vida, de uma época... são, todas elas,
que formam a história de toda uma comunidade, de toda uma cidade, de muitas vidas.
Eu fico muito feliz quando as fotos que tenho recebido e exposto despertam emoções.
Poucos dias atrás recebi a visita de uma pessoa que não via desde criança. Eu a reconheci.
E passou um filme em meus pensamentos.
Rute, filha de Seu Barbosa,
Agente da Estrada de Ferro Leopoldina.
Seu Barbosa, para nós, crianças, era " a autoridade".
Era ele quem fazia o trem chegar,.O trem só partia se ele deixasse. A gente só viajava
se ele nos desse um bilhete que, depois, um homem bravo vinha pedir e
furar com uma maquininha "milagrosa". Seu Barbosa também era bravo. Aquela figura miúda
(era assim que nós o víamos) não nos deixava subir no trem para pular " lá na frente". E era tão bom quando conseguíamos enganá-lo.

A Rute apareceu n"O Califa só pra ver fotos.
Aí eu vejo como é bom e gratificante esse trabalho que venho fazendo de recolher memórias, de conseguir fazer reviver histórias.

Ontem recebi um pedido de Rutinha. Ela queria uma foto que tem o irmão dela, Ivan.
Que bom poder atender.
Assim, a família dela , hoje, ao ver a foto,
com certeza vai conversar, vai rir, vai contar histórias, vai viver.