segunda-feira, 22 de abril de 2013

HOMENAGEANDO TIA MARIQUINHA (TIA FIA)


Maria do Zito conta a seguinte história:
“Eu era bem pequenininha. E a Madrinha Fia, quando o era noiva do Padrinho Vanir,lá por volta de 1937, 38,  ficou muito triste quando ele foi chamado pelo exército. Todo dia ela me pegava no colo e se sentava lá na varanda do sítio do Engenho de Serra e cantava essa música.Cantando ela matava o tempo e saudade do meu padrinho. E eu guardei a música na minha lembrança. “
Eu já tinha pedido à Maria que cantasse a música pra que eu escrevesse a letra. Mas Luiz Fernando (Nandinho) fez melhor. Foi com Maria num pequeno estúdio e gravou a voz dela em CD, cantando a música. Hoje, Maria me presenteou com o CD. Cópia da letra concluída ( as falhas e alguns erros devem ser creditadas ao tempo e à memória de Maria) eu a compartilho com vocês.
 


Acorda, por favor, despreza  este teu leito
E vem ouvir a voz que entre soluços sai triste do peito,
Esquece de teu sonho  e vem inconsciente
Ver alguém que te quer loucamente.

Bem sei que meu amor por ti é tão pequeno
Por tua causa é que estou neste sereno
Sei que é ilusão pra mim
E desiludido em quero viver assim

Sem te ver eu vou morrendo aos poucos
Vagando como um louco na escuridão
És pra mim espírito de luz
que mostra o bom caminho
e aceita por carinho tudo que seduz.

Na estrada reta  do meu destino
Vejo uma sombra perdida
Que mostra a sorte e o desatino
São trevas da minha vida

Porém cansado até demais
Mas vou pedir-te um favor
Guarda a ilusão que nos traz
Transforma tudo em paz
E deixa a minha dor.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

UMA NOITE NO CIRCO



 Hoje tem goiabada?
Tem, sim senhor.
Hoje tem marmelada?
Tem, sim senhor.
E o palhaço, o que é?
É ladrão de mulher.
Um alto falante estridente. Um palhaço meio maltrapilho. Uma caminhonete Ford 1951. Uma turma de moleques gritando forte. Uma criança a olhar pela greta da janela. Os olhinhos brilhando, com vontade de estar no meio daquela turma. Uma panela no fogão a lenha. Uma mulher atenta para não deixar queimar o angu. Uma criança que aproveita o momento. Um instante e esta criança já está no meio da molecada.
Então, entro no meio da molecada, não sem antes deixar o palhaço carimbar meu pulso com o nome do circo. Circo Alakong... Circo Teatro Continental. Circo Bartolo. Não importa o nome. Importam a lembrança e o carimbo. E o cuidado, pelo resto do dia, para não molhar, não lavar. O carimbo é a garantia de assistir ao espetáculo da noite.
- É ladrão de mulheeeeeeeeeeeer. Grito tentando mostrar que meu grito é o mais forte.
Com o cuidado de não me deixar ver .
O palhaço grita anunciando as atrações da noite: Princesinha e Moreninha, o Palhaço Pipoca e o palhacinho Pipoquinha, show de dança com belas rumbeiras, o salto mortal dos trapezistas sem rede de proteção, a menina de 9 anos andando no arame, grande apresentação do mágico e, para encerrar o espetáculo, o emocionante drama CORAÇÃO MATERNO.
A caminhonete toma o rumo da rua do Sapo. Antes, o motorista para no açougue do Maron e compra um coração de boi.A molecada gritando sem parar. Afinal, tem que ter grito para valer a entrada.
Mais de duas horas depois, volto pra casa esperando sentir a mão de minha mãe esquentando minha orelha. Mas vai valer a pena. Entro em casa.
- José Alberto, onde é que o senhor estava?
Quando minha mãe falava meu nome completo e bem pronunciado era sinal de que algo bem dolorido viria a seguir.
-Olha , mãe, o que eu consegui: entrada pro circo logo mais.
Pensei que falando assim estaria perdoado. Grande engano.
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiii! Foi só o que pude falar.
O que me restava fazer a partir de então? Ajudei a tirar a mesa do almoço, dei comida pro cachorro, varri o quintal, dobrei a roupa tirada do varal, catei lagartas nas folhas de couve na horta, fiz tudo o que podia e o que não devia nem podia para agradar minha mãe. E deu certo.
Banho tomado sem molhar todo o banheiro e sem deixar sair a marca do carimbo. Toalha de banho pendurada no varal. Roupa suja dentro do cesto. E lá estava eu, aprontando para ir ao circo. Gumex nos cabelos para fixar o topete do cabelo cortado a Príncipe Danilo. Sapatos brilhando. Sentei na beirada da calçada esperando algum adulto para me acompanhar.
- Olha ele direitinho tá? Recomendou minha mãe.

 E lá fomos nós. Dinheirinho reservado para comprar um pirulito daqueles bem puxa-puxa.
O cheirinho de pó de serra (serragem) está marcado até hoje na minha memória. Uma lona cobre todo o picadeiro. Os trapezistas entram . Prendo a respiração. Meu Deus! Que perigo!!!! E o atirador de facas?!?! Fecho os olhos com as mãos mas deixo uma fresta para olhar as facas zunindo em direção àquela tábua toda marcada por furos. Aplausos. Mais aplausos. E os espetáculo continua.
- Quando me apertam dançando, chego quase a desmaiar, quando me apertam dançando, chego quase a desmaiar, porem se danço com Pepe, com Pepe eu não sinto nada.... canta Ângela Maria, num disco arranhado e cheio de chiado, o que não atrapalha o desempenho e o encanto da rumbeira que dança rodando em todo o picadeiro. Nas arquibancadas, uma menina vende fotos autografadas pela rumbeira e pelos trapezistas.
Um intervalo.
Na volta o palco está montado para o grande drama da noite.
- O que você quer que eu faça pra provar que te amo, Lazinha? Pergunta o ator.
-Se você me ama de verdade, Rodolfo, me traz o coração de sua mãe. Responde Lazinha para seu noivo.
- Não acredito que esteja me pedindo isso.
- É isso mesmo que você ouviu. O coração de sua velha mãezinha .
Rodolfo sai em carreira desabalada. Lazinha tenta alcançá-lo. Não consegue.
No som do alto falante, Vicente Celestino canta:
Parte já e pra mim vai buscar
De sua mãe inteiro o coração.
..................
E sua amada qual louca ficou
E a chorar na estrada tombou...
........................
Chega a choupana o campônio
Encontra a mãezinha
Ajoelhada a rezar.
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar.
Tira do peito sangrando
Da velha mãezinha o pobre coração...

A platéia chora. Lazinha se desespera. As luzes piscam. Meus olhos fixos naquele coração sangrando. Também choro.

Vicente Celestino continua
À distância saltou-lhe da mão
Sobre a terra o pobre coração.
Nesse instante uma voz ecoou
- Magoou-se pobre filho meu.
Vem buscar-me, filho, aqui estou,
Vem buscar-me que ainda sou teu.

Lazinha grita. Rodolfo chora. Cai o pano.

Até hoje não me sai da memória aquele coração de boi sangrando.A mãezinha no chão com o terço na mão em frente à imagem da Virgem Maria. E me emociono.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

COMO ERA BOM!


- Ai!!!!!!!! Quase queimei meu pé!

Foi assim, naquele dia, que terminou  uma brincadeira de mergulho na palha  da Máquina de Arroz do Nenen Alvim. Não tínhamos percebido que a palha de arroz estava queimando. Éramos quatro moleques que, escondidos da mãe e do pai, todos os dias, depois de fazermos os deveres de casa, íamos fazer nossas estrepolias pelas ruas, pelas máquinas de arroz e no pasto do Ary.  Nas ruas eram os piques-bandeira, na linha do trem, brincávamos de bang-bang, no pasto do Ary, descíamos escorregando dentro de canoas feitas com  caixas de papelão ou pedaços de coqueiros. E quase, perigosamente, as nossas canoas voavam e paravam no meio da rua. Quanta inconsequência! Quanto perigo! Mas como era bom!

Carrapatos se agarravam aos montes nas nossas pernas . Alguns, mais espertos, subiam pelo corpo. E a coceira se alastrava!!!! E coçava, coçava, coçava. E  quando chegávamos em casa nossas mães faziam aquela roda de coro. E juntando à coceira vinham os vergões da vara fininha que a gente mesmo pegava no mato pra mãe usar na bunda de cada um. E como doía!!! Mas como era bom!

Mas, no dia seguinte, íamos nós outra vez, um a um, saindo de casa. Sorrateiramente. Próximo ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, a gente se encontrava, dava aquela olhadinha esperta pra ver se não tinha nenhum adulto olhando e... zás. Rapidinho estávamos todos dentro do ribeirão. As latas que tínhamos escondido na véspera estavam lá nos esperando. Cada um com uma latinha na mão. As de gordura de coco eram as melhores, porque cabia mais areia dentro delas.  Começava então a tarefa de tirar areia do leito do ribeirão. Cada lata cheia representava um buraco mais fundo no meio do ribeirão. O buraco crescia e virava um pocinho. Pronto. Nossa piscina estava pronta.  O barranquinho ao lado do ribeirão era nosso trampolim. Nossos mergulhos eram cronometrados.  Um, dois três, quatro... trinta... quarenta e um... Os que estavam de fora contavam pra ver quem aguentava mais tempo com a cabeça debaixo d’água. Era nosso campeonato de mergulho. E no corpo todo, as chamechugas grudavam na nossa pele . Saíamos da água e começávamos a tarefa de retirar as chamechugas. Bichinhos nojentos! Mas como era bom!

De volta pra casa, outra surra. Mas, não tinha importância. Já tínhamos brincado o tanto que queríamos. E no dia seguinte , todos lá, outra vez. Mas a brincadeira  já era outra. Saíamos passeando pela cidade sem usarmos as ruas e as calçadas. Nosso passeio era dentro do ribeirão, que ia se juntar, mais na frente, ao ribeirão maior, o Capivara. Passávamos por dentro das manilhas por baixo das ruas. Enfiávamos as mãos nas locas em busca de cascudos e bagres. Às vezes usávamos as latas  para  a pesca de pequenos lambaris.  Chamechugas e as vezes pequenos cortes  nos pés. Mas como era bom!

Ainda estava longe o tempo dos vídeo-games, da TV. Poucas eram as casas com geladeira. Na hora do almoço íamos nas casas que  tinham uma “Frigidaire”  e pedíamos um pouquinho de gelo; Um copo de groselha era o “refrigerante”. Mas como era bom!

São apenas algumas lembranças do que “aprontávamos” na infância, nos dias de semana. Porque aos sábados o programa era o Açude do Aíde. Depois de algum tempo apareceram o Açude do Luiz Teixeira, o Açude do Maron e o Açude do Zé Amaral. Porque o  “Pocinho da Rebahía “ era muito perigoso (mas a gente fugia pra lá também) e a Prainha era só para as meninas. E o pocinho do Américo Pinto era muito raso. Mas como era bom!

Bela infância! Belos momentos! Grandes surras! Mas como era bom!!!!!!

 

 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

MARIA GODÊNCIO E OS VERSOS DO MARTÍRIO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO


Um presente que recebi hoje me fez pesquisar e descobrir este texto.

Se puder, leia.

 

* Os Martírios

A tradição dos martírios perder-se-á nos tempos longínquos, vindos da Idade Média, não de forma pura mas fruto de uma evolução. Nessa altura, a expressão popular religiosa era muito forte, muito arreigada no povo. A sua origem poderá estar, possivelmente nos autos da Paixão, encenações e representações dramáticas.
Estas peças teatrais, bíblicas ou religiosas foram muito comuns na Península Ibérica, entre os séculos XIV e XVIII, algumas delas ainda vividas nos nossos dias.
No Teatro
No teatro, as cenas (Autos) dramáticas, representativas da Paixão de Cristo, vêm dos séculos XIV e XV. Da literatura castelhana do século XV, conserva-se um auto da paixão de Lucas Fernandes, outro de Afonso del Canto. Na Catalunha, ainda se conserva uma visita ao sepulcro do século XIV. E em França, há ainda a Passion Didot, pela primeira vez representada em Paris, em 1450.
Desde a Idade Média, os relatos da Paixão foram encenados em actos sacramentais extra-litúrgicos, e assim foram permanecendo em alguns países como a Alemanha e a Espanha. No nosso país enquadrar-se-á neste entendimento uma representação teatral ou um auto numa povoação de Trás-os-Montes, “Vilar de Perdizes”.
Na Música
Para além dos autos dramáticos existiam, também, composições musicais sobre o texto das narrações evangélicas da Paixão, desde o século IV em melopeia pré-gregoriana, de modo especial os relatos da paixão.
Desde a segunda metade do século XVII compuseram-se paixões com melodias gregorianas e, a partir de 1700 a poesia livre começou a substituir o texto bíblico.
Começará a raiz ou origem dos martírios.
Bach foi um compositor que conservou intactos os textos bíblicos, ainda que rimados. Depois dele, a Paixão tornou-se superficial devido ao sentimentalismo da poesia ao fraco rigor das composições. A propósito, refira-se que a reposição da Paixão segundo S. Mateus, em 1829, cem anos depois da sua estreia, contribuiu para a redescoberta das suas obras. E o sentimentalismo aqui referido, é esse mesmo que iremos encontrar nos poemas, cuja música será essa melopeia entre o gregoriano e a melodia árabe, embora de um fio melódico em tom menor.
Os Martírios em Vizela
São privilégio no Minho, mas só em Vizela eles se manterão com certo vigor, ainda que dando já indícios de um certo desgaste ou cansaço. Só as pessoas de idade os sabem cantar e, no tempo da mocidade delas isso era comum. Por outro lado, de uma tradição ainda viva em Vizela, esta é exclusiva do lugar das Teixugueiras. Só neste lugar, e em mais nenhum, eles se cantavam.

* A Rosinha Tuntum

“Como este costume entrou em decadência, foi-me dito haver uma senhora, entre muitas outras que ainda os sabe cantar muito bem. É a Rosa Nunes, ou Tuntum, que nasceu e toda a vida morou nas Teixugueiras.”
A Rosinha Tuntum é uma senhora cheia de vida e boa disposição apesar dos seus 65 anos. Os “versos” dos martírios foi a sua mãe que lhes transmitiu verbalmente e que ela fixou na memória. A mãe dela sabia ler e escrever muito bem. A Rosinha Tuntum, essa, porque assim era uso no seu tempo de rapariga, não foi para a escola. Mais tarde, nos seus trinta e tantos foi obrigada a frequentar uma escola de adultos. E ela, de sacola ao ombro cantava para quantos quisessem ouvir:
Ó marido faz-me sopa,
Mete a comida à fornalha.
Quando vier da escola,
Dou de comer à canalha.
A descrição dos Martírios
A Rosinha Tuntum aprendeu-os nos seus 16/17 anos, da boca de sua mãe que também já os cantava desde que fora rapariga também.
Quase sempre, cantados nas Teixugueiras e sempre à noite. Só na quaresma, começando a cantá-la a partir da quarta-feira depois da “sarra-se a velha”. Aliás só se cantavam às quartas e sextas-feiras da quaresma. Quando se cantavam cá em baixo nas Teixugueiras ou era no caminho ou à beira da estrada, com dois grandes grupos: um, aí de umas oito pessoas, que “botavam os versos”; e um outro, muito maior, que respondia.
Numa altura em que a procissão da via-sacra esteve a passar de novo pelo Mato, a Rosinha Tuntum e outras mulheres, tinham-se preparado para os cantar do alto do monte. A procissão levou outro rumo e os Martírios não se cantaram. E quando eles se cantavam quase em multidão, punham muito cuidado no ensaio, para eles saírem bem. Senão, era “pecado” cantá-los sem respeito, e fora do tempo da quaresma.

As quadras dos Martírios 

Então, a Rosinha Tuntum, fielmente, lá foi ditando, uma a uma, todas as quadras, num total de 21.
Oh, meu Senhor do Calvário,
Vossa cruz é de oliveira
Foste o mais lindo cravo
Que nasceu entre a roseira.

A Vossa Divina Cabeça,
Coroa de espinhos cravada
Entre dores incríveis
Fonte de sangue difamada.

Os Vossos Divinos Cabelos
Foram em sangue ensopados
Sangue que veio remindo
Os nossos feios pecados.

A Vossa Divina Testa
A picaram c’um escolheiro
Por mor dos meus pecados
Jesus Cristo verdadeiro

Os Vossos Divinos Olhos
Derramados pelo chão
Pelo amor dos meus pecados
Senhor Deus, tanta paixão!

O Vosso Divino Nariz
De vós tornais o cheiro
Por amor dos meus pecados
Jesus Cristo Verdadeiro

Os Vossos Divinos Lábios
Roxos como o próprio frio
Por amor dos meus pecados
Senhor Deus, tanto Martírio!

À Vossa Divina Boca
Vos deram fel amargoso
P’ra bem guardar nossas almas
Castigo eterno, horroroso.

Às Vossas Divinas Faces
Vos deram mil bofetadas
Por duros, feroz algazes,
Escarnecidas, pisadas!

O Vosso Divino Pescoço
De grossas cordas ligaram
De rua em rua com ele
Como rei Vos arrastaram

Aos Vossos Divinos Ombros
Vos puseram um madeiro
Por amor dos meus pecados
Jesus Cristo Verdadeiro

Às Vossas Divinas Mãos
Vos pregaram numa Cruz
Por amor dos meus pecados,
Misericórdia Jesus!

O Vosso Divino Peito
Foi cruelmente rasgado
Que dele correu abundante
Remédio para o pecado

O Vosso Amável Coração
Pois que o abriram com uma lança,
Com vida que nele entremos
Cheios de amor e confiança

À Vossa Divina Cinta,
Vos puseram uma toalha
Que nela se representa
A Vossa santa mortalha

Os Vossos Divinos Joelhos
De rastinhos pelo chão
Por amor dos meus pecados,
Senhor Deus, tanta paixão!

Aquela mulher Verónica
Que vos saiu ao caminho
A limpar o Vosso rosto
A uma toalha de linho

A Vossa Divina Cinta
De grossas cordas ligaram
De rua em rua com ela
Que a morrer vos arrastaram.

Se quereis saber a verdade
Assubi àquele oiteiro
Vereis as ruas regadas
Com o seu sangue verdadeiro

Por nascimentos infinitos
De tanta amarga paixão
Temo Jesus, concedei-nos
Dos nossos crimes perdão…
Estes são os “versos” que um primeiro grupo “botava”, ao que o outro grupo, mais numeroso, “respondia”:

Padeceu grandes tormentas
Duros martírios na Cruz
Morreu para nos salvar
Bendito seja Jesus!

 

Em Palma, na década de 1950, Dona Maria Godêncio (como  eu não sei) recitava os versos do Martírio de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Analfabeta, Maria Godêncio recitava os versos, cantava nas procissões. E a maior lembrança que temos dela é na procissão do enterro, da sexta-feira santa. Atrás do esquife do Senhor Jesus, lá ia Maria Godêncio cantando:

Pecadores redimidos

Com o sangue do Senhor, Atendei, vede se há

Dor igual (Dorival) a minha dor.

Cantava  do jeito que ela  entendia as palavras, mas cantava do jeito que o coração ditava pra ela. Eram palavras cheias da mais pura emoção.

Na semana passado, escrevi um pequeno texto sobre a sexta-feira santa.

Hoje, Vanda e Vilma Freitas  me presentearam com  a oração rezada por Dona Maria.

Uma vez, Vanda pediu que ela rezasse . E enquanto ela rezava, Vanda  foi escrevendo.

Eis a oração de Maria Godêncio resgatada por Vanda.

Muito se perdeu da oração original. Mas o que Maria Godencio retirou dela e o que acrescentou só deu mais emoção ao texto do martírio.

 

 

 

Vossa cruz de Oliveira

Vosso mais lindo cravo

Que nasceu das roseira

 

Vosso Bom Jesus do Calvário

Santo nome é

Nossa Sagrada fé

Bom Jesus de Nazaré.

 

Foi ateto de morrer

 

Dai-me licença  Senhor

Que eu entre em  vossos tesouros

Vossos sagrados cabelos

Finos como fios de ouro

 

Vossa sagrada cabeça

Coroada com agudos espinhos

Por causa dos meus pecados

Vós sofrestes tantos martírios

 

Vosso sagrado olho

Inclinado pelo chão

Por causa dos meus pecados

Sofreste tanta paixão

 

Vosso sagrado rosto

Cheio de escarros nojentos

Por causa dos meus pecados

Sofreste tantos tormentos

 

Vossa sagrada boca

Cheia de fel amargoso

Por causa dos meus pecados

Jesus Cristo poderoso.

 

Vossas sagradas mãos

Pregadas numa cruz

Por causa dos meus pecados.

Valei-me Senhor Jesus!

 

Vosso sagrado pescoço

Amarrado com uma corda

Por causa dos meus pecados.

Senhor Deus , Misericórida!

 

Vossos sagrados ombros

Denegridos de madeira

Por causa dos meus pecados

Jesus Cristo verdadairo

 

 

Vosso  sagrado peito

Transpassado com uma lança

Por causa dos meus pecados.

Senhor, dai-me confiança.

 

Vossa sagrada cintura

Amarrada com uma toalha

Bem me parecia

Ser a vossa mortalha.

 

Vossos sagrados joelhos

Arrastados pela terra

Por causa dos meus pecados.

Valei-me meu Senhor eterno!

 

Vossos sagrados pés

Ardem como nervos puros

Escorrendo muito sangue

Pela rua da amargura.

 

Santa mulher, Verônica

Foi visitar o Calvário

E o pago que lhe deram,

Meu senhor, Santo Sudário.

 

Quem esta oração rezar

Um ano continuado

Nesta vida será rei,

Na outra será coroado.

 

Terá tanto perdão

Quanto as árvores tem de folhas,

Como areia tem no mar.

Ofereço este bendito
Que nos livre dos castigos
PARA SEMPRE.
AMÉM !


E, como dizia Maria Godencio, ou Godenço: DIVERAS!!!!!!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

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