terça-feira, 14 de maio de 2013

O CHEIRO DO MEU PAI


De repente senti vontade de voltar e subir  os degraus que acabara de descer. No alto da escada tio Paulo ainda acenava se despedindo. O perfume que senti no momento do abraço de despedida  passou pelo meu nariz e foi inundar minha alma. E voltei. Nos poucos segundos da volta ao alto da escada minhas memórias voltaram com tal força que projetaram nas minhas lembranças muitas imagens de grande importância na minha vida.
Eu me vi entrando naquele pequeno quarto onde meu pai se deitava para descansar todos os dias após o almoço. Ele se levantara há pouco. Eu me deitei e senti o cheiro da sua cabeça  no travesseiro. E aquele cheiro inundou minha alma
Eu entrei em casa, depois de muito tempo sem vir a Palma. Falei “bença, pai”. E fui direto ao sofá onde  ele estava sentado. Um abraço cheio de saudade, um beijo,outro beijo. Ele se acomodou no canto do sofá e eu me deitei sobre as pernas dele. Ele, então, passou as mãos pelos meus cabelos. E senti o cheiro daquelas mãos. E aquele cheiro inundou minha alma.
Já casado , morava numa casa em frente à casa dos meus pais. Minhas filhas brincavam com frequência na varanda da frente. Eu me sentava no murinho  ao lado e ficava olhando Laila e Clarice  brincando. Meu pai atravessava a rua e vinha “corujar” as netas. E ficava ao meu lado. Eu sentia seu cheiro. E aquele cheiro inundou minha alma.
Sentado na varanda , com uma blusa de frio  jogada nas costas, meu pai ficava olhando a rua e mexendo com todos  que passavam pela calçada. Gostava  de sentir a presença dele . E meu pai tinha um perfume especial. Só dele. E aquele cheiro inundou minha alma.
Uma lembrança triste e meu pai no leito do hospital. Eu ficava fazendo carinho no braço dele,  passava as mãos pelos cabelos dele e o abraçava. E sentia seu cheiro. E aquele cheiro inundou minha alma.
No meu guarda-roupa tenho guardado o terno de casamento do meu pai . Ele o usou  há mais de sessenta e cinco anos.  Incrível, mas parece  que aquela roupa  guardou o cheiro dele. E aquele cheiro inundou minha alma.
E chego , de volta, ao último degrau da escada. E falo para o tio Paulo que voltei para dar outro abraço. Ele me deu um beijo. Eu beijei o rosto dele e senti, no tio Paulo, o cheiro do meu pai. Falei para ele: Eu me sinto muito feliz em abraçar o senhor. É como se eu estivesse abraçando de novo o meu pai.  E desço as escadas para ir embora. 
Continuo a sentir o cheiro do meu pai.
Porque aquele cheiro inundou minha alma.

4 comentários:

Anna Barbosa disse...

Olá Beto,

Adorei o texto!Muito bom. Estamos esperando seu livro!

Abraço,
Anna Barbosa

Ailson disse...

Belo texto!

Pedro Chicri disse...

E este sentimento inundou a minha alma!Carinho,Pedro Chicri.

Unknown disse...

CHOREi E AMEI DE NOVO.