segunda-feira, 24 de outubro de 2011

HOJE BATEU UMA SAUDADE!!!!!!

Eu me viro na cama e espreguiço.
Os ruídos que vêm da cozinha me despertam.
O cheirinho do angu que mamãe acaba de mexer toma conta da casa. Mas logo depois é abafado pelo aroma mais forte do café.
Papai já pegou a bicicleta e foi para o sítio onde Tarcísio juntou as vacas leiteiras. No curral , os mugidos. Na várzea ao lado , a plantação de arroz quase coberta pela água está  escondida por uma neblina espessa  , característica  das manhãs mais frias.
Em casa, a gente tenta dormir mais um pouquinho, mas mamãe nos põe pra fora da cama e diz :
- Se quiserem  mesmo comungar , levantem que já passa das cinco.
Eu me levanto num pulo, visto meu uniforme do  grupo escolar, ponho meu casaco de frio e, ladeira acima, vou pra Igreja de São Francisco.
Padre Thiago já está no altar e se prepara para distribuir a comunhão para os fiéis que se dispõem a levantar cedo nesse frio.
A mesa da comunhão se enche rapidamente. Eu, com a roupa de coroinha, patena na mão, ajudo o padre a  dar comunhão.
Está quase na hora do relógio da igreja bater seis horas. Subo a escadaria, passo pelo coro, subo outra escada, passo pela caixa de máquina do relógio, me espremo em outra escadinha e chego no alto da torre. Lá eu fico esperando as seis badaladas para, em seguida, bater o ângelus.  É motivo de orgulho para um menino do meu tamanho e da minha idade conseguir bater aquele sino tão grande. O som da badalada chega a doer os ouvidos.
Desço as escadas feliz da vida.
O meu ramalhete da cruzada eucarística infantil já está quase cheio: muitas comunhões, um grande número de jaculatórias, muito terços rezados, muitas missas assistidas... Dona Judith, dessa vez, vai ter só elogios pra mim.
Também, depois de ter desobedecido as regras da cruzada  e pulado muito carnaval, só e restava isso mesmo. rezar muito e pedir perdão a Deus. E torcer pra não ser chamado de “apóstolo do mau exemplo” outra vez.
Mas cabeça de criança é assim mesmo. E o coração de criança é imprevisível.
Desço pra casa. A fome aperta. Sem comer desde a véspera! Comunhão exige pelo menos três horas de jejum.
A ladeira parece até maior do que é. Mas tenho que descer devagar. No domingo passado, com a roupa branca da cruzada, fui tentar descer correndo, escorreguei, “catei cavaco”, a roupa ficou imunda,os joelhos estão ralados até hoje e a orelha ardendo dos puxões que levei para aprender a me comportar e não correr ladeira abaixo.
Chego em casa, tomo meu café com pão e manteiga, embrulho um pão com goiabada pra levar de merenda, pego um  amarradinho de couve  pra sopa da caixa escolar,  pego meu Compêndio de Ciências Sociais de Genoveva Khedi, coloco dentro da minha pasta, aponto os lápis, limpo as borrachas, verifico se os deveres de casa estão todos feitos e vou por grupo.
Tenho que chegar bem cedo. A turma já me espera na pracinha pra brincarmos de parte-queijo.
Até que o sino bate.  Dona Iná, Dona Maria Freitas e Aparecida do Zelino já estão na cozinha. As professoras a postos. E Dona Judith, com seu olhar severo, no galpão. Todos em fila. Hoje é quinta. Tem hino nacional? Não. Hoje é dia 15 de outubro. O caderno de hinos é aberto e a criançada canta:

Professora , querida professora,
Parabéns  neste dia tão feliz,
Deus lhe dê nesta data , professora,
Todo bem, todo bem que a gente quis.

Salve quinze de outubro, salve o dia,
Que tão perto nos fala o coração,
Professora recebe nesse dia
Todo amor, toda nossa gratidão.

Dia a dia a ensinar,
Sempre amiga a indagar,
 be-a-ba, dois e dois quantos são.
No recreio a correr,
Como nós a viver,
A nos dar sempre o seu coração.

(ACHO QUE O HINO À PROFESSORA ERA ASSIM MESMO)


5 comentários:

Anônimo disse...

Oi amigo,
lendo seu texto eu também senti saudades "do meu tempo".
Congratulations!

Abraço da Tetéia!

washington luiz disse...

tinha uma fila para bater a hora da ave Maria na igreja de bixo para ver quem chegava primeiro as 18 horas.
voce esta mais mineiricimo no texto
parabens.
Que diferença tem uma infancia do interior para a cidade grande.

não sei ver meus email, sem ver se voce publicou auguma coisa.

Sonia Canellas disse...

Beto, lendo seu post bateu uma saudade do Pe.Thiago!Ele era tão bonzinho. E também da Dona Iná, que gracinha de pessoa ela era. Que sopa deliciosa ela fazia lá no Grupo.
Você ainda conseguiu ficar na Cruzada, eu não pude, adorava brincar o Carnaval e D. Judith era muito brava,nossinhora, brava demais da conta...a gente tinha um medão danado dela, lembra?
Também brinquei muito de partir-queijo no coreto do jardim, Seu Toninho dava cada bronca se a gente pisasse em alguma planta....
Que tempinho bom! Você fica fazendo a gente lembrar essas coisas todas, seu danado!!! Mas é bom, né? Dá uma saudade gostosa....
Inté.

Adolfo Lúcio disse...

Eita Beto!Não somos contemporâneos,
mas viajei e de muito me lembrei. Lembrei direitinho da sopa do grupo, da nossa famosa ladeira. Lembrei da reforma do Fórum, onde brincávamos de pique esconde a noite e depois íamos brincar de parte-queijo, mais tarde sentar pra ouvir as histórias do seu Jão(seu Jão carinhosamente conhecido como Jão Piquira, morava logo ali ao lado na casa do seu Zé Luiz da Força e Luz). Seu Jão Piquira contava cada causo de arrepiar, da mula-sem-cabeça, do saci e outros. Pra ir embora pra casa, na rua Firmo de Araújo 303, eu ficava aguardando alguém passar lá praquelas bandas pra ir junto. Firmo de Araújo tinha seus causos de “maldades” contados também. O causo"que prendeu a filha na prefeitura até ela morrer", a morte dele "metralhado por bandidos".
Ô tempo bão! Só lembranças, e como o Washington disse, não entro na internet sem dar uma olhadinha no seu blog.
Conta mais aí Beetooo!!! Valeu amigo! Saúde e paz pra todos.

Adolfo Lúcio
Brasília–DF.

DULDE disse...

BETO WALDO TANBEM NAO ESQUECE AQUELA SOPA DA DONA INA ELE SEMPRE DIZ QUE TROUXE 10 SACOS DE ESTERCO PRA HORTINHA DO GRUPO PRA GANHAR SOPA SO QUE DEPOIS FOI SO UNS DIAS DESSERAM PRA ELE NAO TERIA MAIS DIREITO A TAO FAMOSA SOPA QUANTA SAUDADES VOCE E MESMO GENIAL TE AMO PRIMO BEIJOS DULCE