terça-feira, 28 de outubro de 2014

sábado, 30 de agosto de 2014

PALMA - FRANÇA - LÍBANO

30 de julho de 2014








31 de julho





Primeiro de agosto
Não sei se acordei ou se ainda durmo.
Eu só sei que sonho acordado um sonho dos bons.
E acordado , a realidade é melhor do que um sonho.
Vamos de carro até o cais do Rio Loire, em Montjean. E iniciamos o nosso primeiro passeio. A beleza da ponte sobre o rio já nos encanta. A bela ponte, construída em 1948, depois de destruída várias vezes, liga as margens do Loire com seus quase 500 metros de extensão. Assaad, Leyla, Maxime, Ramzi, Rita, Maria José e eu. O guia nos conta e explica , durante todo o percurso, a história do rio,  a riqueza da flora e da fauna da região. O desconhecimento do idioma dificulta o entendimento. Mas não ofusca o brilho da paisagem. E vamos.
















Após o passeio de barco, o destino é Angers, a  30 Km de distância.
No Castelo de Angers, atravessamos a ponte levadiça e no interior da muralha  ficamos extasiados com os edifícios em estilo gótico e  com os belos jardins. O castelo de Angers está localizado bem no coração da cidade de Angers e é composto por um grande número de torres que guardam  muitas histórias que aconteceram desde o  início da sua construção no Século XIII. Passou por várias  mudanças ao longo dos séculos, o que pode ser notado pelos diferentes traços arquitetônicos. Mas o que mais me encantou foi  a Galeria do Apocalipse, construída entre 1952 e 1954, onde está exposta uma obra de arte especialíssima:  as tapeçarias que “retratam”  o último livro da Bíblia, escrito por São João. São 70 cenas em tapeçaria que se revelam ao longo de cerca de 100 metros e que contam, com riqueza de detalhes o livro bíblico. Encomendado em 1375 por Luis I, Duque de Anjou, a obra  provavelmente foi  concluída em 1382.

























A Galeria do Apocalipse é a mais antiga tapeçaria sobrevivente com estas dimensões. Além de nos apresentar o apocalipse, a obra também fornece informações sobre a situação social e política do final do século XIV, quando ainda durava a Guerra dos Cem Anos.
A apreciação de tamanha beleza e o devido entendimento foram enriquecidos com a competente explicação do “professor Ramzi” que procurou termos simples  da língua francesa  para tornar a compreensão mais fácil.

CATEDRAL DE ANGERS
A bela Catedral de Saint Maurice, de Angers, uma bela construção ( melhor chamá-la obra de arte) que mistura os estilos românico e gótico, erguida entre os séculos 11 e 16, foi classificada como Monumento Nacional da França em 1862.
Destacam-se o grande órgão e a porta real  que mostra belas esculturas  que representam o Cristo em sua majestade rodeado pelos símbolos dos quatro evangelistas.


Dois de agosto
PUY DE FOU
Um grande palco ao ar livre. 14.000 espectadores  confortavelmente sentados. Mais de 1.200 atores. 24.000 peças de figurino. Setecentos anos da história da França contados num maravilhoso espetáculo. Além dos atores, centenas de cavalos participam da encenação. Queima de fogos. Atores e atrizes (mesmo as crianças) vêm das aldeias da região e são voluntários. O cenário nos envolve e parece que fazemos parte da história.

















 Três de agosto
Saint-Florent le vieil

Quatro de agosto
Rochefort-em-Terre
Rochefort-en-Terre é uma comuna francesa, da região administrativa da Bretanha. Ocupa uma pequena área de pouco mais de 1 km quadrado e possui uma população que não chega a 700 pessoas.
Edificada sobre uma colina, a cidade dá uma impressão de homogeneidade. Mas não. Sua arquitetura mistura os mais diversos estilos: casas com estrutura de madeira, edifícios góticos, mansões renascentistas, arquitetura do Século XIX, casas de pedra...





































Cinco de agosto

La mine bleue 

Uma visita mais do que especial a uma mina de ardósia desativada. Depois de uma detalhada explicação sobre a extração de ardósia, uma visita guiada a 126 metros de profundidade.
Um plano inclinado.
Prendemos a respiração , descemos em um teleférico, tomamos um trenzinho de mineiros e mergulhamos em um passeio emocionante a  La Mine Bleue, com suas longas galerias e seus  imensos salões que, com seus ‘bonecos” nos envolvem com as técnicas de extração,  culminando com a projeção de um documentário esclarecedor sobre o árduo trabalho e as grandes conquistas trabalhistas dos mineiros na primeira metade do Século XX.



















Após a visita à mina, almoço :Ville de Segré

Seis de agosto
Mont Saint  Michel
A bela arquitetura do Monte Saint-Michel e sua baía  fazem dele o terceiro ponto turístico mais  visitado da França (atrás da torre Eiffel e do Palácio de Versailles), com mais de três milhões de visitantes por ano.
O monte Saint-Michel está localizado no limite entre a Normandia e a Bretanha, no centro de uma baía que é invadida pelas maiores marés da Europa ( marés com uma amplitude de cerca de 13 metros e com um recuo do mar por cerca de 13 quilômetros. Hoje o monte Saint-Michel só fica cercado de água e volta a ser uma ilha por  algumas horas, durante 53 dias por ano.
A história do monte começou no ano 708, quando Aubert, bispo de Avranches, mandou edificar sobre o Mont-Tombe um santuário em honra ao Arcanjo. Mais tarde, no sec. X os beneditinos instalaram-se na abadia, tendo se desenvolvido uma aldeia no sopé. Praça forte durante a Guerra dos Cem anos, o Mont Saint-Michel é também um exemplo de arquitetura militar.
Após a dissolução da comunidade religiosa na altura da Revolução e até o ano de 1874, foi objeto de grandes restauros.. Desde então os trabalhos nunca foram interrompidos e o local permite que os visitantes reencontrem o esplendor da Abadia que os homens da Idade Média viam como uma representação de Jerusalém celeste sobre a terra.
Sobre o flanco sul do rochedo, ao abrigo das muralhas que datam dos séculos XII e XV, o vilarejo conta com um grande número de casas classificadas como monumentos históricos, pequenos museus locais e comércio turístico.
No ponto mais alto da igreja, uma estátua de bronze dourado, representando São Miguel, culmina a 170 metros acima do nível do mar desde 1897,  (obra do escultor francês, Emmanuel Fremiet) acrescentada durante as primeiras grandes obras de restauração do fim do século XIX.











































































































































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Sete de agosto
Saint Malo

Saint-Malo é uma cidade portuária fortificada, na Bretanha, no noroeste da França sobre o Canal Inglês.Fica a mais ou menos 400 km de Paris.Saint-Malo tornou-se conhecida  como a casa dos corsários, e, por vezes piratas













































A entrada do centro histórico é feita pelo portão Saint Thomas.Todos os prédios são em granito cinza, uma característica das construções da Bretanha e têm a mesma altura.
Suas muralhas protegiam a cidade nos tempos das invasões marítimas. Apesar de inúmeras tentativas, os ingleses nunca conseguiram transpor os muros de Saint Malo. A cidade foi bastante destruída durante a Segunda Guerra após bombardeios aéreos dos aliados, devido a uma informação errada de que havia alemães escondidos no centro histórico.

Jantar em Cancale

Oito de agosto
Descanso. Passeios apenas em Montjean.

Nove de agosto
Castelo Durtal
Localizado em Durtal , no departamento de Maine-et-Loire  foi classificado como monumento histórico em 1900 .O castelo está localizado a meio caminho entre Angers e Le Mans, sobre um promontório rochoso, com vista para o vale do Loire .Sua construção foi iniciada  em 1040 e concluída em meados do Século XI.O castelo atual data do Século XV, após a Guerra dos Cem Anos.


















































Dez de agosto
Manhã de domingo, trem Angers/Paris.
Em Paris, Tour com passagem pela torre Eiffel, Arco do triunfo, Champs Elisées, Pigalle e  Basílica do Sacré-Coeur
A Basílica do Sacré-Coeur teve sua construção iniciada  em 16 de junho de 1875 mas a guerra atrasou a consagração que não pode ter lugar até o ano de 1919. Os seus arquitetos construíram-na  num curioso estilo de mistura de românico e bizantino. O campanário de 84 metros de altura segura o famoso “Savoyarde”, o sino de 19 toneladas, um dos maiores do mundo.
Uma imponente escadaria ( lotada de turistas, dentre os quais, eu) leva à fachada da igreja e ao pórtico de três arcadas  sobre o qual estão duas estátuas equestres das duas personagens históricas mais queridas dos franceses: o Rei Luis, o Santo e Santa  Joana D’Arc.














Onze de agosto
Palácio de Malmaison
O Castelo de Malmaison fica no município de Rueil-Malmaison, no departamento de Hauts-de-Seine, a oeste de Paris. A origem de seu nome, Mala domus (má casa), atestada em 1244, seria associada a um antro de invasores normandos, que espalhavam vandalismo pelos arredores. Este pequeno castelo sem pretensões, construído por um rico banqueiro no século XVIII, entrou para a História quando Joséphine de Beauharnais, esposa de Napoleão Bonaparte, o adquiriu durante a Revolução. De 1800 a 1802, ele foi, junto com o Tuileries, a sede do governo da França, e Napoleão hospedou-se nele regularmente até 1804. O castelo, transformado em museu nacional napoleônico, foi restituído, sob a direção da Réunion des Musées Nationaux, ao estado que tinha durante o Consulado e o Primeiro Império. Nele, destaca-se o suntuoso aposento de Joséphine de Beauharnais com a cama original e o aposento do imperador, ou ainda o impressionante serviço de porcelana de Sèvres destinado às grandes recepções.



















Pantheon
Inicialmente o Pantheon foi a igreja de Santa Genoveva, a partir de um voto feito por luis XV, gravemente doente  em 1744. A Revolução transformou-a no templo da glória para alojar os restos dos grandes homens.   O majestoso edifício guarda o sepulcro de Jean Jaques Rousseau.A cripta que se abre abriga numerosas tumbas de homens ilustres: Relembram as de Victor Hugo, Emile Zola, Voltaire, Carnot, Mirabeau, etc.
Após o Pantheon, passeio pelo Louvre, Teatro da Ópera, Edifício do Senado e la Défense.

























Doze de agosto
Aeroporto Charles de Gaulle – Aeroporto de Beirute
LÍBANO
Cinco horas de voo. A chegada em Beirute já encheu meu coração de alegria. Assaad e eu fomos recebidos por Rita e Helene. Os sorrisos  transformaram o primeiro momento em terras libanesas na abertura ideal para o filme que se iniciava naquele instante em minha cabeça. Começava ali uma maratona de felicidade.
Do aeroporto partimos para a casa de Jean e Jocelyne (irmã de Assaad). Confesso que fiquei surpreso com a recepção. Parecia que eu já era velho conhecido, um velho amigo, diante de tanta simpatia com que fui recebido. Eu me senti como em minha casa. No início meio sem graça. Mas  o carinho do casal e das três filhas Nahy, Maya e Laura ( que me perdoem se os nomes não são escritos assim) me fez começar ali a  realizar  com felicidade um dos meus maiores sonhos: conhecer a terra dos meus avós maternos. Vera Maalouf não quis esperar o dia seguinte e veio me conhecer. As emoções aumentaram. A alegria também.
No carro de Vera saímos para um local que foi guardado em segredo para mim até a chegada. E subimos, subimos, subimos... parecia que chegaria ao céu. E cheguei. Quando o carro parou, a vista das montanhas do Líbano me fizeram, chorar de felicidade. A visão daquela paisagem me  transportou para cem anos atrás.  E rapidamente me trouxe para a atualidade.
Não sei como, mas era como se eu fosse minha avó Málaque e meu avô Feres Metre olhando outra vez a terra natal. Estavam de volta. Muito felizes, tenho certeza.
Todo o dia 12 foi recheado de bons e grandes acontecimentos. Um jantar oferecido por Jean e Jocelyne encerrou o primeiro dia em Beirute.






















Treze de agosto.
Jocelyne colocou um carro à nossa disposição para os passeios que viriam a seguir. Saímos cedo em direção á casa de Vera Maalouf.  De lá fomos  em direção a...
Gruta de Jeita
 É um complexo de duas  cavernas interligadas  no Vale de Nahr al-Kalb.A primeira delas  foi descoberta em 1836  e é incontestavelmente uma das cavernas mais impressionantes do mundo. A primeira só pode ser visitada em pequenos barcos pois está submersa pelos canais de um rio subterrãeno que abastece de água potável mais de um milhão de libaneses. A outra permite o acesso a pé e pode ser percorrida em uma série de passarelas. Nesta há uma  grande quantidade de picos, um deles que chega a aproximadamente 120 metros de altura.












HARISSA
Saindo de Jeita, fomos a Harissa, um importante local de peregrinação, em Jounieh.  Distante 20 km de Beirute, subindo por uma estrada bem íngreme, chegamos ao topo, a quase 700 metros de altitude. Lá, a imagem de Nossa Senhora do Líbano domina  a paisagem. Na base da estátua há uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora. Ao lado, uma imponente Igreja Maronita, de arquitetura moderna lembrando a forma de um Cedro do Líbano. E bem próximo dali, o majestoso convento de São Paulo.
























MONASTÉRIO DE MAR CHARBEL  (São Charbel)
São Charbel morreu no Mosteiro de Annaya, na véspera do Natal de 1898, onde seus restos mortais foram sepultados.  No local há uma placa que diz que  sobre o túmulo apareceram algumas  luzes. O corpo, ainda incorruptível, foi  transferido para um outro  túmulo dentro do mosteiro, onde se encontra até os dias de hoje. Milagroso, São Charbel foi beatificado em 1965 e canonizado em 1977.
A vida pós-morte de São Charbel
Depois de 23 anos de vida eremítica, em que sua obediência foi quase legendária, sua castidade angélica transparecendo em todo seu ser, pobreza na qual imitou os maiores santos da Igreja, e oração contínua, entregou ele sua alma a Deus no dia 24 de dezembro, vigília de Natal do ano 1898.
Ao dar início ao seu processo de beatificação, Pio XII disse que “o Pe. Charbel já gozava em vida, sem o querer, da honra de o chamarem santo, pois a sua existência era verdadeiramente santificada por sacrifícios, jejuns e abstinências. Foi vida digna de ser chamada cristã e, portanto, santa. Agora, após a sua morte, ocorre este extraordinário sinal deixado por Deus: seu corpo transpira sangue há já 79 anos, sempre que se lhe toca, e todos os que, doentes, tocam com um pedaço de pano suas vestes constantemente úmidas de sangue, alcançam alívio em suas doenças, e não poucos até se vêem curados”.(3)
Em 1952, quando foi feita a terceira exumação do corpo de São Charbel, “o corpo foi retirado do caixão e sentado numa cadeira, diz testemunha ocular. Os braços e as pernas dobrados, curvados. A cabeça inclinada balançava dum lado para outro. As vestes sacerdotais e as roupas interiores estavam encharcadas de sangue”.(4)
O número de milagres nessa ocasião foi tão grande, que Anaya, onde está seu mosteiro, foi chamada de “A Lourdes libanesa”. Somente entre 22 de abril de 1950 e 25 de junho de 1955, foram registradas nos anais do Convento São Maron 237 curas, muitas constatadas e confirmadas por médicos.(5)


















Nesse dia, antes de irmos à Gruta de Jeita, visitamos um Museu de Cera, junto ao complexo do Parque Aquático rio City e Rio Lento. Minha surpresa maior foi conhecer Hind, minha prima, filha de Salma Maalouf. As emoções apenas começavam. A história da minha família, no Líbano, começava a tomar os contornos que eu esperava.
Quatorze de Agosto.

Encontro marcado com Heléne que subirá conosco para Kfar katra. Só  por escrever este nome: KFAR KATRA,  o coração dispara. Imagine o  instante em que nos encontramos com Helene e começamos a viagem rumo às montanhas. As conversas abordavam os mais diversos assuntos. O meu pensamento só se fixava em um : Kfar Katra. Uma parada para a compra de alguns doces. Kfar Katra no pensamento. Outra vez a estrada.  Curvas e curvas.  O calor de Beirute ficando para trás. O calor  no peito não se dissipava. Pelo contrário, aumentava. Mais curvas. Mais ansiedade. Quanto mais nos aproximávamos de Kfar Katra mais distante parecia que estávamos. Kfar katra não chegava. E não podia acelerar. As curvas não permitiam. Mas o pensamento exigia. E a força do pensamento não era suficiente para empurrar o carro. E lá, um pouco mais à frente, Assaad me diz, de repente: Eis Kfar Katra. Não devia ser assim. Mas foi. Sem anestesia. E paro. Sem fala. Sem ar. Sem nada. Só vontade de saltar do carro e beijar aquele chão  de terra seca. Mas , não. Eu me contenho. E observo. E   absorvo. E respiro aquele ar. E sinto como se fosse o ar de cem anos atrás. 1914. Há cem anos os libaneses da minha família deixavam este chão. Cem anos depois eu volto a este chão. É a primeira vez. Mas é como se fosse o caminho de volta. Faço por Málaque. Por Feres Metre.  Por Maria e por João (Nacib). Por Salim e por José. Por Chicre Metre e por Kalil Salum, por Alida e por Ward. Por Latuf e por Jorge Ammar. Eu faço o retorno e me emociono. Não devia ser assim. Mas é assim. É a nossa volta para casa cem anos depois. As ruas estreitas.... as casas de pedra... tal como deixamos no século passado. As guerras destruíram mas não apagaram as lembranças. As guerras mataram mas não dizimaram  o amor  por essa terra. E era  lá que eu estava. Kfar Katra. A bela e aconchegante  Kfar Katra. A terra  da  vida. A terra das emoções. Das melhores emoções. Das lembranças da minha avó. Dos meus sonhos de menino. E lá estava eu. Não era mais o sonho de um menino que ouvia histórias como se fossem contos de fadas. Era a realidade palpável, com cheios e sabores... com calor humano... com gosto de abraço... com o cheiro do figo e da uva... da água de rosas e da flor de laranjeira...  da transparência da água que escorria por suas fontes... da velha e grande mansão do Kalil Metre Maalouf que povoava  meus pensamentos como se fosse o palácio de um poderoso monarca.


 E lá estava eu. De repente, recebia o abraço dos primos Charbel e Paul. Kfar Katra é palpável. Existe mesmo. E lá estava eu. Tia Adma me recebe em sua casa. A inibição e a dificuldade do entendimento por causa do idioma aos poucos cedem espaço para o perfeito entrosamento pelos gestos e palavras soltas,  alinhavados pela emoção que tornava tudo  totalmente esclarecido. Não há barreira de idioma quando o coração tem a voz mais forte. Assaad traz o álbum com as fotos que garimpei por mais de um ano  e que resumem a história da família Maalouf  em Palma. Aí  não há mais problemas.  Só alegria.
Deixo o álbum com Charbel e vou ao encontro de Tio Assaad e tia Souad.  É  emocionante ver como  não é necessário nenhum documento de identidade para se comprovar que é um Maalouf. O físico, os olhos, os gestos são as nossas digitais, são a nossa identificação. Helene é filha de Assad e Souad. Charbel  e Paul são filhos de Tio Adib e tia Adma. E vou me familiarizando. E ficando mais e mais e mais feliz.
Mesa posta. Agradeço a Deus pela comida do corpo e pelo alimento da minha alma que agora está mais forte. Almoçamos. Depois, tio Assaad me mostra suas medalhas e suas patentes de militar emolduradas na sua sala de estar.  Helene e eu saímos. Quero ver a Igreja. Dormir depois do almoço. De jeito nenhum. O corpo não consegue e nem quer repousar. E vamos. Passamos por um atalho que leva á igreja de Nossa Senhora. Lastimável. Não existe mais a placa  de mármore com a inscrição: Oferta de Kalil Metre Maalouf. A guerra das década de 1980 destruiu a placa e a igreja. Mas a  memória, não. A placa existe no pensamento e na história. Aqui era a casa de Phillipe, me diz Helene.  O verbo no passado é como uma faca cortando a minha carne. Aqui era. Ali foi. Ali moravam. Mas...
De volta para casa. Olha o pé de maçã!!!! Alí são as peras... E as uvas??????? Reencontramos tio Assaad. Saímos de carro. Tio Assaad quer me mostrar Kfar katra.  E me mostra a igreja que Phillipe começou e não concluiu a construção. E me leva até uma fonte de água outrora límpida e potável. Mas, mesmo com todas estas mudanças, Kfar Katra existe e suas histórias povoam e vão continuar a povoar os meus pensamentos.
Voltamos. Vou conhecer tio Adib. Um abraço emocionante.  Mais histórias. Adib é o mais velho dos primos de minha mãe. E sabe   dos Maalouf também por ouvir dizer. Mas sabe muito. E conta. E eu me maravilho. Me fala das fotos, esclarece fatos meio confusos e conversamos e falamos e falamos... não existe mais o árabe e o português. O idioma é o idioma do coração.






















Tio Assaad  nos convida para um passeio. E vamos até Deir el Kamar.
No caminho, paramos para uma visita ao Castelo de Moussa. Construído por Moussa Abdel Karim Al-Maamari, demorou 60 anos para ser concluído. Conta-se que Moussa sempre sonhou em construir um castelo e , ainda pequeno, desenhava  rascunhos de seu castelo nos papéis da escola, o que fez com que seu professor  batesse nele com vara e lhe dissesse que nunca iria conseguir nada na vida. Hoje, o castelo faz parte do roteiro turístico do Líbano, atraindo milhares de visitantes . Quanto ao professor, não sei dizer nada sobre ele. Já sobre Moussa!!!!!















Depois, fomos até o centro de Deir el Kamar. E eu me lembrei do poema que escrevi sobre a lua no céu de Palma, em janeiro de 2013, e que foi um dos responsáveis pela descoberta dos meus familiares no Líbano.
A LUA QUE BRILHA EM PALMA É A MESMA QUE ENFEITA OS CÉUS DO LÍBANO

NO CÉU, A LUA VEIO DIZER
QUE QUATRO HORAS ANTES ESTAVA EM BEIRUTE.
A MESMA LUA QUE BRILHA AQUI
QUATRO HORAS ANTES ILUMINOU O MEU  LÍBANO
COM RAIOS DE PRATA E FLUIDOS DE AMOR.
E DEPOIS  QUE TERMINAR SEU CICLO POR AQUI
ELA VAI OUTRA VEZ ILUMINAR AS MONTANHAS DE  CEDRO.
CANSADA DE CLAREAR O CÉU DE OURO PRETO E BELO HORIZONTE
VAI BRILHAR EM BIBLOS, TIRO, BEIT EDINE E BAALBECK,
VAI PRATEAR  A NOITE DE BEIRUTE E KFAR KATRA...
AÍ, QUANDO PALMA FICAR SEM LUAR
EU VOU SABER O QUE ELA VAI ENFEITAR:
A LUA IRÁ VOLTAR PARA  O MOSTEIRO DA LUA
LÁ NA DISTANTE DEIR EL QAMAR.

Voltamos para Kfar Katra. Ao chegarmos, lá vinha a procissão de Nossa Senhora. Eu disse a Assaad que iria acompanhar. E fui.  Eu só sabia dizer AMÉM. Mas fui.

Depois da procissão, a missa. Do lado de fora da igreja começou a juntar gente. E eu no meio. Charbel me apresentou aos outros. E eu me lembro de Khaled e de Omar. Charbel me disse que Omar era filho de Melheme. (Melhreme é uma outra história) e eu lhe disse que não era do Melheme que eu procurava. E mar me disse que o pai morrera há um mês. Conversa vai, conversa vem, e descubro que a mãe de Omar se chama Nagibe. Eu lhe pergunto, na cara de pau, se Nagibe era filha de Labibe. Ele confirma. E eu concluo que ele é primo de Odete e de Chaffia, de Palma. Pode??? Pode. E foi. Assaad chega e a conversa toma mais consistência. Até que chega a hora de irmos para a casa de Michel, outro primo, filho da prima Adlete. Na volta para casa, antes do jantar de Michel, conheço o outro Michel, filho de tio Adib. E a família vai aumentando. (A história é meio confusa???? Imagina como estava na minha cabeça!!!!”!!) Vamos até a casa de tio Assaad e voltamos para a casa de Michel. Somos recebidos com muito carinho e atenção por ele, por sua esposa Nazira, e pelos filhos. Helen, a filha, senta-se ao meu lado e conversa comigo, deixando-me mais à vontade. Brindes e mais brindes. Kessak!!!!! Saúde. E vamos nós.





 Voltamos para casa de tio Assaad. O sono chega. Amanhã o dia será muito longo também. E tão agradável quanto o de hoje.
No dia seguinte, vamos com Charbel até a plantação de frutas de tio Adib. Uvas, ameixas, maçãs, peras , pêssegos. Tudo doce como mel. Doce como a conversa de tio Adib.










Malas no carro. Mesa posta por tia Adma. Comemos, Rimos. E chega Khaled, com a mãe, Souad Maroun Monzer que, pela conversa descubro, também é prima, por parte de vovô Feres Metre.
Tia Adma me presenteia com água de flor de laranjeira, Arak e sabão feito por Michel. Mas o presente maior foi a felicidade que me proporcionaram. Agradeço emocionado, comovido. E partimos. Temos que chegar ainda para o almoço em Kfardebien.

KFARDEBIEN
Uma estrada sinuosa e movimentada nos leva de Beirute para Kfardebien, a mais de 1.400 metros de altitude. E chegamos à casa de Ramzi e Rita.. As apresentações me emocionam. Quanta gente. Quantos primos e primas:  Rima, Hind, Rita, Helene, Antoine, Assaad, Souad, Ramzi, Oliver, May, Norma,  filhos, filhas, muita gente. Apresentações feitas. Conversas que não têm fim. E vamos descobrindo coisas, contando e escutando histórias. O cheiro que vem da cozinha conquista até quem não sente fome. Mesas  e cadeiras arrumadas. Copos sempre cheios de arak! (?!) água, água. Água... E somos chamados para o almoço. Meu Deus!!!! Quanta variedade!!!!!! E vamos que vamos!!! Ramzi  e Rita  agradabilíssimos. Risos. Gargalhadas.  Norma,  a mais animada. E as sobremesas????? Uffffff!!!!   Vamos fazer uma foto???? Todos  se juntam . Máquinas, celulares, flashes!!!!! Risos. Muitos risos. E muita alegria e felicidade.































Alguns vão repousar. Ramzi nos convida para um passeio. E vamos.  Se já estávamos a 1.400 metros de altitude, subimos um pouco mais. E  chegamos a um local surpreendente. Num pequeno espaço,  lado a lado,  construções dos fenícios, dos egípcios e dos romanos. A alturas e a localização estratégica  eram essenciais para  a vigilância dos  povos que dominaram aquela região. Por isso as ruínas lado a lado. Subimos pelas pedras que compõem a construção romana e de lá vislumbramos uma belíssima paisagem.
Ramzi nos conta toda a história.  Mais uma vez procura as palavras mais fáceis para que eu possa entender. Depois ele nos leva até uma ponte esculpida em pedra pela própria natureza. E, após a ponte, as ruínas de um templo romano e de uma igreja bizantina. Uma aula de história. O prazer da companhia de  Ramzi,  tio Assaad, tia Souad, Rita, Hind  e Helene.






























De volta para casa, Assaad e eu saímos para caminharmos um pouco. Kfardebien no verão tem uma temperatura agradável e no inverno é uma famosa e badalada estação de esqui.
Mais conversa em casa. O sono chega. Dormimos. O dia amanhece e é chegada a hora de mais uma despedida. Fotos.  Abraços. A tristeza pela partida é compensada pela  felicidade do encontro.
Descemos a serra.
Rio Lento nos espera.

RIO LENTO/ RIO CITY
Charbel, Michel e George nos esperam no Rio Lento/Rio City.
Chegamos ao Parque . Michel nos recebe. Saímos com Michel para conhecermos Rio City. Belo parque! Na volta,  George nos aguarda. Apresentações feitas.  E a conversa começa. E também parece que não vai ter fim. O álbum de fotos  roda de mão em mão. E as explicações não param.Charbel. Khaled, Michel (Adlete). Nazira e os filhos chegam também. E vira festa. E que festa!!











Todos nos reunimos no restaurante do parque e o clima de confraternização e alegria aumenta ainda mais. Brincadeiras, conversas, animação. Não há dúvida. Família unida é o melhor que podemos querer para nossas vidas. E agradeço a Deus por esta bela família que possuo.
Mas é chegada a hora da despedida. Promessa feita. Daqui a dois anos nos reunimos de novo.
Michel Monzer  me presenteia com produtos feitos por ele. Fotos e mais fotos. E um “até breve”. Assim espero.
Voltamos para Beirute. O álbum fica com George. Na segunda voltamos para pegá-lo. Ótima desculpa para nos revermos.

BIBLOS
Domingo bem cedo retorno á casa de Vera. Vamos sair para um passeio. E o que vai acontecer é no mínimo engraçado. Carro da rua, na estrada e lá vamos nós. Vera e eu.
Ela me pergunta onde quero ir. Deixo por conta dela. E chegamos a  Jbeil. 






















O que vejo me encanta. É domingo e lojas estão abertas num belo espaço. Lojas de artesanato, presentes, e vamos caminhando, até que chegamos num local “realmente maravilhoso”. Fotos e mais fotos.E pergunto: Por que estamos em Jbeil e há tanta coisa,muitos estandartes com o nome de biblos? Santa ignorância a minha. Vera me responde que Jbeil é Biblos. Conheci, sem saber que estava conhecendo, a cidade que eu mais queria ver: Biblos. Mais de 6000 anos de história diante dos meus olhos e sob os meus pés.
Voltamos para  casa onde Mireille prepara um saboroso  almoço.
À tarde Assaad volta da casa do pai e vamos para a casa de Jean e Jocelyne.
Amanhã será o nosso último dia no Líbano. Passou muito rápido.

Segunda-feira. Começa uma nova semana. Vamos até a casa da mãe de Assaad para as despedidas. Um gesto da mãe de Assaad me comove e eu escondo uma lágrima provocada pela alegria que senti. Ao se despedir de mim , ela me deu um beijo e em seguida me puxou e beijou meu peito, sobre o coração.
Saímos dali e fomos até o centro de Beirute, numa rua onde os armênios são maioria e as joalherias são muitas. Comprei as  alianças prometidas para a Maria José e fomos passear um pouco pelas ruas de Beirute.

























Este foi o último dia no Líbano .Na madrugada do dia 19 fomos para o aeroporto e partimos de volta à França onde Ziad  e Lili nos esperavam e onde encontraríamos Leyla e Maria José, vindas de Montjean.
Chegamos juntos.  Quando descemos do carro de Ziad , vimos Leyla e Maria José descendo de um taxi. Começava ali mais uma etapa da nossa  maravilhosa viagem.
Deixamos as malas e saímos. Ziad já programara um passeio no bateau mouche para todos nós.
Lili, Ziad, Leyla, Assaad, Maria José e eu fizemos um passeio muito interessante, no qual pudemos apreciar as belezas de Paris: as pontes, a Catedral de Notre dame. O passeio do Bateau Mouche começa na Pont de l’Alma, segue em direção às ilhas de la Cité e de Saint Louis, faz a volta e segue até a Torre Eiffel. Dá para ver Um Pouquinho de cada Lugar de Paris. Vale muito a pena.


























Depois do passeio fomos até a Torre Eiffel. De lá voltamos para casa. Mais tarde eu encontraria Thales, meu sobrinho, e jantaríamos juntos na casa de Ziad.
Na manhã seguinte saímos cedo para  conhecermos o Palácio de Versailles. Maravilhoso. Merece ser o segundo ponto turístico mais visitado da França. 24.000 pessoas por dia.






















De volta para casa, arrumamos as malas.
Leyla e Assaad voltaram  para Montjean.

Ziad e Lili  nos acompanharam até o aeroporto. E terminou a história.

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