domingo, 10 de agosto de 2008

O REMEDINHO


Pequena homenagem a um grande amigo

Uma manhã como a maioria das manhãs. Alguns poucos carros trafegando pelas ruas. Muitos cachorros fazendo cocô e xixi nas calçadas. As ruas mal varridas. No posto de saúde, as intermináveis e lucrativas filas de doentes. Na porta do banco, aposentados e pensionistas aguardando a hora de verificarem o que lhes resta de dinheiro depois que os bancos debitam a parcela do empréstimo. No bar, uma fezinha no jogo de bicho. As lojas abrindo as portas para os clientes que não vêm. Na padaria, entre um e outro cafezinho, um fuxico, uma fofoca e uma sacola de pães. As beatas terminam as rezas e voltam para suas casas. Empregadas domésticas sacodem tapetes nas janelas. O sol da manhã já ameaça torrar os miolos de quem se aventura a sair pelas ruas.
É nesse clima, que Carlito aparece no caminho para o hospital.
- E aí, Carlito, tudo bem?
- Nada.
- O que é que tá acontecendo?
- Eu já te falei. Não me pergunte como é que eu vou, Pergunte, onde é que dói?
- Fala sério. O que é que tá havendo?
- Estou indo pro hospital . Não tô bem.
- O que é que você tá sentindo?
- Tudo.
- E pra que essa sacola na sua mão?
- É meu pijama e meus remédios. Vou pedir pro Doutor José Arnaldo me internar.
- Mas, o que é que aconteceu ?
- Acordei hoje com uma tremenda falta de ar. Então, peguei um comprimido de aminofilina . Depois de um tempinho, até que a falta de ar melhorou, mas me atacou uma azia que eu não via há muito tempo. Fui na cozinha e misturei duas colheres de takasime na água e tomei. A azia passou, mas começou uma dor de cabeça dos infernos. Pedi à Geni, a empregada, que me trouxesse trinta gotas de novalgina e deitei um pouco. Tive que levantar rapidinho e correr pro banheiro. Tava com uma cólica sem fim. Do banheiro mesmo gritei pra mamãe pegar um enteroviofórmio que tava no armário da copa. Tomei dois comprimidos e esperei no banheiro mesmo. Quando saí, sentei um pouco na varanda . De repente, bem aqui do lado direito, começou uma dor que eu pensei que fosse morrer. Gritei outra vez a Geni e pedi pra ela pegar umas folhinhas de boldo no quintal e fazer um chazinho porque os remédios tinham atacado meu fígado. Pra que eu fui fazer isso! Acho que me deu uma alergia e comecei a tossir que não parava mais. Levantei e fui no criado mudo do quarto da mamãe e peguei um comprimido de celestamine. Aí entrei em desespero. Começou a me dar uma tonteira que eu pensei que o mundo ia cair. Tudo rodava. Aí eu lembrei que o Doutor Zé Arnaldo tinha falado que eu tava com princípio de labirintite. Mandei dois comprimidos de estugeron de uma vez só . Aí a coisa piorou. Acho que minha pressão, em vez de baixar, subiu. Liguei pra farmácia do Toninho e pedi pra ele mandar alguém vir medir minha pressão e já trazer uma caixinha de captopril. Realmente ela tava alta. Tomei um comprimido e sentei pra ver um pouquinho de televisão. Senti, então, uma dormência na mão e o coração disparado. Coloquei um isordil debaixo da língua e esperei. Pra que? Voltou a falta de ar.. Tenho ou não tenho razão de pedir pro Doutor me internar?

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro Sr. Beto,
Parabéns pela iniciativa, continue essa empreitada e Palma merece.
Estarei conectada cá.

Unknown disse...

EH pai, conheço essa história!!!Ótima. bjos

betometri.blogspot.com disse...

Essa história também me é familiar.

Ass.: Paulo Sérgio

Sonia Canellas disse...

Adoro essa historia!!!!!

karinanogueira disse...

vc é tão primoroso no q faz q ao ler esta história consigo enxergar detalhes da cena!!!!Parabéns,continue sempre.karina

claudia de gonzaga balbi disse...

Beto,vc continua incrível!!!