terça-feira, 7 de dezembro de 2010

NICANOR BARBOSA DO AMARAL. O SEU NICANOR DA PHARMÁCIA


Os móveis que pertenceram à Pharmacia do
Sr. Nicanor encontram-se, hoje, na
Farmácia Santo Antonio,
no centro de Palma.









- Menino, se você fizer arte, vou chamar o Seu Nicanor!
Menina, para de chorar senão eu chamo o Seu Nicanor!
Um curativo? Seu Nicanor.
Remédio pra febre? Seu Nicanor.
Embrocação (há quanto tempo não se fala essa palavra) só
com o Seu Nicanor.
Um viveiro com muitos animaizinhos? Seu Nicanor.
Um carinho numa criança que machucou a testa? Seu Nicanor.
Aquela farmácia limpinha asseada (outra palavra em desuso)?
Era a Pharmácia do Seu Nicanor.Sr. Nicanor e Dona Judith


Quando a gente entrava na farmácia, logo à esquerda, aquela
escada vermelhinha e bem lustrosa (outra palavra estranha).
Acho, também, que era uma das poucas casas de
Palma que possuiam campainha (daquelas redondas
com um botão no centro).
A criançada, de molecagem, tocava
a campainha e corria só pra ver
Dona Judith esbravejar.
No balcão, os remédios.
Nas prateleiras envidraçadas, vidros e mais vidros.
Tinha cibalena, melhoral, pílulas de vida do Dr. Ross, pastilhas Walda,
Rum Creosotado,Bromil,
Óleo de Fígado de Bacalhau, Xarope de limão bravo,
Elixir paregórico,Colubiasol, óleo de rícino,
Colírio Lavolho, Loção Brilhante, Emplastro Sabiá,
Emulsão de Scott,
Saúde da Mulher, Eparema...
Depois daquela portinha, um outro balcão,
com uma balança dentro de uma vitrinezinha.
Potes de louça branca, espátulas, pequenos frascos,
tubos, remédios homeopáticos.
À esquerda, outra escada que dava
numa sala.
À direita, perto de uma janela de onde se via
o viveiro do Seu Nicanor,
uma pedra, acho que de granito, onde muitas vezes ele me colocou sentado
para fazer curativo na minha testa, constantemente
machucada.
Tudo isso, era a Farmácia do Seu Nicanor?
Não.
O mais importante de tudo era aquele senhor sempre
amável, que eu identificava com um quadro:
"Eu vendi a dinheiro.
Eu vendi fiado."
- de um lado, aparecia um sujeito magrinho, cara triste, numa sala opu loja vazia.
No outro lado da gravura, um senhor muito sorridente, ao lado de um cofre
abarrotado de dinheiro..
(acho que era assim)
Mas, o mais importante da farmácia era o Seu Nicanor.

2 comentários:

Cristina disse...

Ai, que maravilha!!!! Eu tinha um carinho enorme por ele, a quem eu chamava de Vovô Canô...
Muito "bão", Beto.

Anônimo disse...

No vidro do balcão estava colada uma tirinha recortada de uma revista, com os seguintes dizeres:

"Tem a nossa Medicina tanto progresso alcançado que o doente quando morre já está quase curado.

O doente está mal penicilina;
O doente piora estreptomicina;
O doente morre, terra por cima"