domingo, 7 de novembro de 2010

SANDERCLEY, O ESFORÇADO.

Tarde de setembro.

No calendário já e primavera. Mas em Palma já é verão.

Um mormaço, um bafo de ar em vez de brisa. Já não bate sol na calçada da minha casa. Mas o suor escorre pelo rosto. O ar fica parado. As folhas das árvores estáticas. Um cachorro espreguiça em frente à porta do açougue. Do lado dele, um osso. Mas parece que o calor lhe tirou o ânimo. E o osso lá! É um “isso”, um “mas” aquilo. E a tarde cai.

A solução é colocar uma cadeira na calçada e torcer pra que o vento faça a curva e chegue em Palma. Pego duas das cadeiras da varanda e as levo pra fora, na esperança de que venha alguém, se sente e me conte algum “causo” interessante.

Passa um.

- Boa tarde, Beto.

- Boa tarde! Vamos chegar?

- Deixa pra outra hora. Tenho que chegar na venda do Seu Antonio antes que feche.

Passa outro.

- Tarde!!!!!!

- Boa tarde, Geraldinho! Tudo bom?

- Bem, obrigado.

- Té!

- Té!

Um. Outro. Uma. Outro. Duas. Três. Uma. Outro. E assim o tempo passa.

- Tarde, Beto!.

- Boa tarde, Seu Chico!

- Posso sentá um pouquim?

(ufa! Até que enfim) Penso.

- Claro, Seu Chico. Senta aí.

Conversa vai, conversa vem, seu Chico vai se empolgando e as histórias vão rolando. ATÉ QUE ELE SURGE COM ESSA PÉROLA:

- Pois num é, Beto, que que fui dá um passeio em Sao Roque e vortei de lá mais feliz da vida do que fui. Tudo por causo do Sandercley. Ô minino bão! Ô alegria dum um pai! O prazer duma família! Esforçado, trabaiadô, home macho pra encardi. Tinha muito tempo que eu num via ele. Aí falei pra Dagmá que eu ia lá em São Roque pra ver o Sandercley. Tava cuma saudade me apertando os peito. Fui até no Muriaé de carona cum Dotô Luiz Carlos. Ele me dexô na estação rodoviária e de lá eu peguei um ônibus pra Sâo Paulo. Depois, de lá, parti num coletivo pra São Roque. Em lá chegando, fiquei meio atordoado cum movimento. E pensei. Minino danado, o Sandercley! Ele tá conseguindo se virá numa cidade grande. São Roque é muito maior do que Palma!!! Ihh!! Muito maior. Acho que é até maior que miracema! Num deve nem ter medo dos carro que passa zunindo nos ouvido da gente. E os ônibus. Beto?! Eles passava assim apinhado de gente. Aík eu peguei um papelzim que ele tinha mandado com o endereço e perguntei prum soldado na esquina ondé que era, e ele me explicou direitim. Deu até pra ir a pé. Mas quando eu cheguei, levei um baita susto. O Sandercley era dono dum salão de barbeiro. Mas quando eu entrei fiquei abismado. Num era barbeiro, nada. Era salão de moça. E eu olhei pro Sandercley, notei as diferença, matutei um poquinho e falei:

- Sandercley, meu filho. Que que é isso nas suas unha? É tintura vermelha? É daqueles esmarte que as minina lá de Palma usa? E esse cabelo,Sandercley? Que que é isso, minino? Loro????????????? Lá em casa ocê era moreno!!! Tinha os cabelo pretim, tão retinto que Dagmá chamava ocê de Tisiu!!! E essas rôpa, Sandercley?!?!?!?!?!? Essas calça justinha parecendo aquelas moça que dança no programa do Silvio Santos!!!! Essas pulsera!!!! Tudo colorida!!!! Isso é coisa de muiézinha!!! E ocê lá em Palma era tão macho!!!! Que que é isso meu filho. E esses amigo seu!!!!!!!! Tem alguns até vestido de muié!!!! QUE TURMA É ESSA, MEU FILHO?

- Não é nada disso que o senhor tá pensando, não, pai. É que a gente vai sair no carnaval, num bloco bem animado, e todo mundo vai vestido de mulher. A gente só tá ensaiando.

- Aí eu falei. Ah! Então tá bão!!

Ta vendo , beto. Que meninu esforçado. Ta vendo como ele gosta de tudo muito bem feito!?!? Qué tudo muito arrumadim!!O carnaval é só em fevereiro do ano que vem e o Sandercley já tÁ ensaiando!!

- Então, tá!

E, ponto final.



(Qualquer semelhança com fatos e nomes reais é mera coincidência)

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