quinta-feira, 4 de novembro de 2010

AGENOR E O TELÉGRAFO - mais um "causo" de Palma


- Esse aviso é para você, Agenor, e para os outros funcionários daqui da Estação. É terminantemente proibido a qualquer um de vocês mexer no aparelho de telégrafo. A desobediência a este aviso é motivo de demissão por justa causa.

Assim terminou a reunião do Seu Cardoso, agente da estação da Leopoldina Railway em Palma, naquela tarde de junho .

O funcionário do depósito de cargas da estação chegou a tremer de medo. Afinal , tinha seis filhos, mulher e sogra para sustentar . Agenor saiu de fininho e , preocupado, caminhou em direção aos cômodos onde morava com a família , no mesmo prédio da estação.O cheirinho da janta saía pelas janelas. A mulher, Maria, gritou os nomes dos filhos que, em fila, entraram em casa. Não sem antes lavar os pés e as mãos na torneira do tanque. Josefa, a filha mais velha estava ajudando a por a mesa.

Agenor contou pra mulher sobre a reunião e ela quis saber porque o aparelho de telégrafo era tão importante e causava tanto pavor. Agenor, então, contou:

- Toda vez que o trem sai de Recreio ou de Patrocínio do Muriaé, o telegrafista envia uma mensagem sobre o horário da saída pra que a gente possa preparar tudo e impedir que um trem use a linha no mesmo horário do outro. Os trens só podem se cruzar nas estações onde dá pra fazer o desvio. Se isso não acontecer, pode ter uma batida de trens e o resultado é que muita gente vai morrer. Imagina, Maria, se um de nós mexe e estraga o aparelho! Deus me livre e guarde!

- Tem razão , Agenor, mas vamos comer que a janta tá esfriando.

Agenor terminou a refeição e foi pra sua oficina e trabalhou até as seis da tarde pois tinha muita encomenda de gaiolas pra entregar na venda do Seu Elias no dia seguinte. E tinha que estar na plataforma na hora do noturno passar.

Quando Agenor chega na sala do Agente, Cardoso está com o rosto vermelho demais. Parece que está pegando fogo. Ele afrouxa o nó da gravata e tenta respirar melhor. Os olhos quase saltam das órbitas. O rosto cada vez mais afogueado. Cardoso leva a mão ao peito. Franze a testa. Dá um grito de dor. E apaga. O aparelho de telégrafo faz um barulho de mensagem chegando. Agenor apavorado olha o aparelho. Tenta socorrer Cardoso. Nada mais há a fazer. Agenor pensa em correr e chamar a mulher de Cardoso. Mas o telégrafo recebe uma mensagem. Agenor vai até a porta. Volta. Lê a mensagem. O trem acaba de sair de Patrocínio. A estação de Recreio precisa ser avisada. Cardoso continua no chão. Agenor tem pressa de chamar dona Tereza. Mas Recreio precisa do aviso. Ninguém para ajudar. E a demissão por justa causa? Agenor em dúvida. Cardoso no chão. O trem vem vindo. Outro trem vem em sentido contrário. E se baterem? E se for demitido? E se Dona Tereza não é avisada. Agenor para . O aparelho de telégrafo na sua frente. Atrás, o corpo inerte de Cardoso . E o trem vindo. E o choque pode acontecer. Vai morrer muita gente. Se mexer no telégrafo vai ser demitido. De repente, uma idéia brilhante. Agenor liga o aparelho e envia a seguinte mensagem:

ACABEI DE TER UM INFARTO E MORRI.

TREM SAIU DE PATROCINIO DEZENOVE E VINTE E CINCO.

ASS. CARDOSO.


Historinha que me foi contada pelo Julio Emílio.

Mas, quem conta um conto ....

eu fiz a minha parte (aumentei um ponto).

(... e qualquer semelhança com fatos e pessoas reais não é mera coincidência)

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