quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ZÉ DO VÉIO E SEUS CAUSOS



Zé do Véio tem sempre uma historinha, um causo, em que ele mesmo é o personagem principal. Na sua humildade , nem se preocupa se é herói ou palhaço, se o acontecido é para enaltecê-lo ou se irá ridicularizá-lo. A gente só sabe que Zé do Veio conta tudo o que lhe acontece.
Dia desses, Zé do Veio apareceu lá pros lados de um sítio perto da Parada da Celeste. Chegou pertinho do curral, onde o retireiro terminava de encher as latas de leite, sob o olhar atento do Seu Oliveiros. Zé foi chegando e logo puxando assunto. Desfiou um fuminho de rolo, cortou um pedaço de palha, enrolou um cigarro , puxou uma tragada e em seguida soltou uma baforada de fumaça que empesteou o ar do curral, antes só perfumado pelo monte de esterco juntado do lado de fora.
Conversa vai, conversa vem, Zé do Veio saiu com mais uma:
- Óia Sô Livero. To que num me agüento de raiva e de rependimento. Se eu subesse que ia dá no que deu, num tinha feito negócio cum César. Sabe, Sô Livero, aquele cavalim que eu tinha e que arriava todo dia na charrete pra ir lá na rua levá as roupa que a Dagmá lava pra Dona Odete e pra Dona Isabel. Pois é. Num é que o danado do César me deu uma manta danada!! E que rependimento!!!! Como dói!!! E só hoje é que eu vejo que meu cavalim era bom demais. O safado do César me convenceu a trocar minha charrete por uma bicicleta.. Na hora até achei que era bom. Mas quando foi de noite, e que eu tinha que vortá pra casa, foi que eu vi que o cavalo era muito melhor. Ele me trazia direitim pra casa. Vinha retim pro sitio. Eu nem precisava oiá pra donde ele tava me levando.A danada da bicicleta num fez isso não. Eu toquei os pedar do jeito que o César falô. Iquilibrei direitim. Toquei em frente. E a fia duma égua da bicicleta me jogou im cima da cerca de arame farpado. Hoje eu to aqui todo estropiado, arranhado e cum a bicicleta quebrada.
-Mas você gosta de fazer negócio ruim, né Zé do Veio? Olha o que aconteceu quando você comprou aquela égua do Quinca!
- Bem que ele falou ! Eu é que num prestei atenção direito.Quando a gente foi fazê o negócio eu perguntei porque o animal tava tão barato. Ele me falô que a égua tava cum defeitozinho. Éééé. O danado me inganô direitim. Perguntei que defeito era e ele me falô assim: O defeito tá na cara. Eu oiei, oiei e num vi nadinha de nada. Oiei e perguntei . E ele vortô a fala que o defeito tava na cara. Ah! Disgraçado. Só quando cheguei im casa é que vi que tava na cara mesmo. A danada da égua era cega dum ôio. Arre, égua!!!
- Fica assim não, Zé. Falou Oliveiros. Eu acho que você tá precisando é de fazer um exame de vista pra enxergar melhor e ficar mais esperto..
- Que nada!!! Noutro dia mesmo eu fui num “zoista” lá no posto de saúde pra ele dá uma oiadinha nas minha vista. Ele me fez oiá num buraco lá,. Cum vidro na frente. Virô pra cá, virô pra lá, e no fim veio cuma cunversa pra boi drumi. Ele queria era me vendê o tar de óculos. E falô assim: O Seu Zé, o senhor tá precisando de dois óculos. Um pra perto e outro pra longe. Aí, eu muito esperto retruquei pra ele. Pricisa não dotô. Só o de perto ta bom. Já dá pro gasto. De longe, precisa não. O mais longe que vô daqui de casa é na casa do cumpadre.É bem pertim de casa. Não é longe, não.. Sô ou num sô bem isperto?
Palma, 10 de setembro de 2009.

2 comentários:

betometri.blogspot.com disse...

Essa é ótima. Me lembro também de um outro causo, contado pelo pessoal da antiga que era mais ou menos o seguinte: Alguém tinha uma bicicleta e proporam trocar por uma égua e a troca foi feita, só que a égua tava manca. Com pena da pessoa, propuseram outra troca, trocar a égua por um porco, afim de engordá-lo e o prejuízo ser menor. Aí castraram o porco e ele morreu. 100% de prejú.
Ass.: Paulo Sérgio

Unknown disse...

Beto, parabéns por fazer algo de tanta preciosidade e que todos nós apreciamos ao recordar esta època. Sei que foi feito com carinho e zelo,e com o mesmo sentimento parabeniso você pela magnífica recordação.
De seu estimado aluno GABRIEL ( NEM ).
Que DEUS abençoe vc e todos PALMENSES.
Um grande abraço,e até breve.