quinta-feira, 11 de abril de 2013

COMO ERA BOM!


- Ai!!!!!!!! Quase queimei meu pé!

Foi assim, naquele dia, que terminou  uma brincadeira de mergulho na palha  da Máquina de Arroz do Nenen Alvim. Não tínhamos percebido que a palha de arroz estava queimando. Éramos quatro moleques que, escondidos da mãe e do pai, todos os dias, depois de fazermos os deveres de casa, íamos fazer nossas estrepolias pelas ruas, pelas máquinas de arroz e no pasto do Ary.  Nas ruas eram os piques-bandeira, na linha do trem, brincávamos de bang-bang, no pasto do Ary, descíamos escorregando dentro de canoas feitas com  caixas de papelão ou pedaços de coqueiros. E quase, perigosamente, as nossas canoas voavam e paravam no meio da rua. Quanta inconsequência! Quanto perigo! Mas como era bom!

Carrapatos se agarravam aos montes nas nossas pernas . Alguns, mais espertos, subiam pelo corpo. E a coceira se alastrava!!!! E coçava, coçava, coçava. E  quando chegávamos em casa nossas mães faziam aquela roda de coro. E juntando à coceira vinham os vergões da vara fininha que a gente mesmo pegava no mato pra mãe usar na bunda de cada um. E como doía!!! Mas como era bom!

Mas, no dia seguinte, íamos nós outra vez, um a um, saindo de casa. Sorrateiramente. Próximo ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, a gente se encontrava, dava aquela olhadinha esperta pra ver se não tinha nenhum adulto olhando e... zás. Rapidinho estávamos todos dentro do ribeirão. As latas que tínhamos escondido na véspera estavam lá nos esperando. Cada um com uma latinha na mão. As de gordura de coco eram as melhores, porque cabia mais areia dentro delas.  Começava então a tarefa de tirar areia do leito do ribeirão. Cada lata cheia representava um buraco mais fundo no meio do ribeirão. O buraco crescia e virava um pocinho. Pronto. Nossa piscina estava pronta.  O barranquinho ao lado do ribeirão era nosso trampolim. Nossos mergulhos eram cronometrados.  Um, dois três, quatro... trinta... quarenta e um... Os que estavam de fora contavam pra ver quem aguentava mais tempo com a cabeça debaixo d’água. Era nosso campeonato de mergulho. E no corpo todo, as chamechugas grudavam na nossa pele . Saíamos da água e começávamos a tarefa de retirar as chamechugas. Bichinhos nojentos! Mas como era bom!

De volta pra casa, outra surra. Mas, não tinha importância. Já tínhamos brincado o tanto que queríamos. E no dia seguinte , todos lá, outra vez. Mas a brincadeira  já era outra. Saíamos passeando pela cidade sem usarmos as ruas e as calçadas. Nosso passeio era dentro do ribeirão, que ia se juntar, mais na frente, ao ribeirão maior, o Capivara. Passávamos por dentro das manilhas por baixo das ruas. Enfiávamos as mãos nas locas em busca de cascudos e bagres. Às vezes usávamos as latas  para  a pesca de pequenos lambaris.  Chamechugas e as vezes pequenos cortes  nos pés. Mas como era bom!

Ainda estava longe o tempo dos vídeo-games, da TV. Poucas eram as casas com geladeira. Na hora do almoço íamos nas casas que  tinham uma “Frigidaire”  e pedíamos um pouquinho de gelo; Um copo de groselha era o “refrigerante”. Mas como era bom!

São apenas algumas lembranças do que “aprontávamos” na infância, nos dias de semana. Porque aos sábados o programa era o Açude do Aíde. Depois de algum tempo apareceram o Açude do Luiz Teixeira, o Açude do Maron e o Açude do Zé Amaral. Porque o  “Pocinho da Rebahía “ era muito perigoso (mas a gente fugia pra lá também) e a Prainha era só para as meninas. E o pocinho do Américo Pinto era muito raso. Mas como era bom!

Bela infância! Belos momentos! Grandes surras! Mas como era bom!!!!!!

 

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Beto, você hoje estava especialmente inspirado!

osny disse...

BETO EU VIVI ISTO TUDO QUE VC POSTOU, É COMO SE FOSSE UMA HISTÓRIA DE MINHA INFANCIA. ADOREI

NIZIN DE SO OSNY DO CORREIO

Ailson disse...

Lindo demais! Boas lembranças.