CONVERSA COM
VÔ PEDREIROS
(Oliveiros)
Para minha filha Marina
Dez da noite.
Lá fora, a cidade parada. Lá longe, um latido. Um outro
cão parece que responde. E começam uma sinfonia canina.
A janela aberta para arejar. Noite calorenta.
Escuto uma vozinha . Estou certo: vem do quarto em frente
ao meu.
- Escuta!!!
- O que????
- Escuta!!!!!
- É a voz da Marina???
- Éééé!!!
- O que é que ela tá falando???
- Não sei. Parece que tá conversando com alguém!!
- Pera aí!!!! Ó!!! Eu acho que escutei ela falar “ vovô”...
- Será que ela tá sonhando????
- Não sei. Escuta.... Ela falou “obrigado”...
Eu me levanto.
Atravesso o corredor e olho pela fresta da porta. Marina sentada na cama. Olha fixamente para a
parede acima do guarda-roupa.
Ela acena.
- Tchau . Ela diz
- Bença. E joga um beijo para a parede.
Eu entro no quarto. Ela ainda sentada na cama sorri
feliz. Estende os bracinhos pra mim e deita.
- O que foi, Nininha!!!! Tava sonhando?
- Não, pai. Eu tava conversando com o Vô Pedreiros.
- Conversando o que?
- Ele falou que me
ama. E falou também que sou muito bonita. E eu falei “ brigado” igual você me
ensinou.
- E onde estava o Vovô Pedreiros?
- Tava alí, bem em cima do guarda- roupa.
- Fazendo o que?
- Uai!! Tava conversando comigo. Ele e o outro homem.
- Que homem!
- O que tava de roupa branca igual a do vô Pedreiros.
- E pra onde ele foi?
- Voltou pro céu.
- Então, dorme, minha filha.
- Bença, pai.
- Deus te abençoe. Dorme com Deus, meu amor.
Apago a luz.
Ela dorme feliz..
E eu... bem... Eu..
Não sei.
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