De repente senti vontade de
voltar e subir os degraus que acabara de
descer. No alto da escada tio Paulo ainda acenava se despedindo. O perfume que
senti no momento do abraço de despedida
passou pelo meu nariz e foi inundar minha alma. E voltei. Nos poucos
segundos da volta ao alto da escada minhas memórias voltaram com tal força que
projetaram nas minhas lembranças muitas imagens de grande importância na minha
vida.
Eu me vi entrando naquele pequeno
quarto onde meu pai se deitava para descansar todos os dias após o almoço. Ele
se levantara há pouco. Eu me deitei e senti o cheiro da sua cabeça no travesseiro. E aquele cheiro inundou minha
alma
Eu entrei em casa, depois de
muito tempo sem vir a Palma. Falei “bença, pai”. E fui direto ao sofá onde ele estava sentado. Um abraço cheio de
saudade, um beijo,outro beijo. Ele se acomodou no canto do sofá e eu me deitei
sobre as pernas dele. Ele, então, passou as mãos pelos meus cabelos. E senti o
cheiro daquelas mãos. E aquele cheiro inundou minha alma.
Já casado , morava numa casa em
frente à casa dos meus pais. Minhas filhas brincavam com frequência na varanda
da frente. Eu me sentava no murinho ao
lado e ficava olhando Laila e Clarice
brincando. Meu pai atravessava a rua e vinha “corujar” as netas. E ficava
ao meu lado. Eu sentia seu cheiro. E aquele cheiro inundou minha alma.
Sentado na varanda , com uma
blusa de frio jogada nas costas, meu pai
ficava olhando a rua e mexendo com todos
que passavam pela calçada. Gostava
de sentir a presença dele . E meu pai tinha um perfume especial. Só
dele. E aquele cheiro inundou minha alma.
Uma lembrança triste e meu pai no
leito do hospital. Eu ficava fazendo carinho no braço dele, passava as mãos pelos cabelos dele e o
abraçava. E sentia seu cheiro. E aquele cheiro inundou minha alma.
No meu guarda-roupa tenho
guardado o terno de casamento do meu pai . Ele o usou há mais de sessenta e cinco anos. Incrível, mas parece que aquela roupa guardou o cheiro dele. E aquele cheiro
inundou minha alma.
E chego , de volta, ao último
degrau da escada. E falo para o tio Paulo que voltei para dar outro abraço. Ele
me deu um beijo. Eu beijei o rosto dele e senti, no tio Paulo, o cheiro do meu
pai. Falei para ele: Eu me sinto muito feliz em abraçar o senhor. É como se eu
estivesse abraçando de novo o meu pai. E
desço as escadas para ir embora.
Continuo a sentir o cheiro do meu
pai.
Porque aquele cheiro inundou
minha alma.
4 comentários:
Olá Beto,
Adorei o texto!Muito bom. Estamos esperando seu livro!
Abraço,
Anna Barbosa
Belo texto!
E este sentimento inundou a minha alma!Carinho,Pedro Chicri.
CHOREi E AMEI DE NOVO.
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